PUC-Rio lança novo curso de graduação

Por Marcus Tavares
As aulas começam em agosto de 2014, após o vestibular de inverno. Um espaço de 200 m² está sendo construído para atender a primeira turma de 30 alunos e uma nova estrutura de ensino. Depois de três anos de intensas discussões e encontros com representantes do mercado de trabalho e de diferentes cursos universitários, o Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) divulga a criação de mais uma graduação: o curso de bacharelado Criação e Gestão de Mídias em Educação.
“Um curso inédito”, resume a coordenadora, professora Rosália Duarte do Departamento de Educação da PUC-Rio. Inédito e inovador para a estrutura universitária brasileira. O currículo é composto por disciplinas de oito diferentes cursos: Educação, Comunicação Social, Direito, Sociologia, Informática, Artes & Design, Administração e Psicologia. As matérias constam da grade de cada departamento e serão oferecidas conjuntamente para os estudantes matriculados nos respectivos cursos e para os que vão ingressar no novo bacharelado.  Soma-se a esta grade um rol de disciplinas criadas, pelo Departamento de Educação, especialmente para o novo curso, que também estarão disponíveis para os estudantes de Pedagogia.
Em entrevista à revistapontocom, a professora Rosália Duarte adianta mais detalhes e conta como foi o processo de criação do novo curso.
Acompanhe:
revistapontocom – De onde surgiu a ideia de criação do curso?Rosália Duarte  Surgiu de uma demanda que recebíamos continuamente  de empresas, instituições públicas e ONGs que trabalham há bastante tempo com a interface comunicação e educação. Essas empresas, como a MultiRio, o Canal Futura, a Fundação Roberto Marinho e o Senac, estavam sempre à procura de estagiários e de indicações de profissionais que soubessem um pouco de cada área. Faziam e fazem contato conosco pelo fato de oferecermos, desde 2004, um curso de especialização em mídias e tecnologias que tem o objetivo de formar profissionais qualificados em ambas as áreas. Todos os nossos alunos que passaram pelo curso de especialização foram aproveitados pelo mercado de trabalho. Acredito que com este curso de especialização, as empresas viram que era possível contar com um novo profissional, que dominasse as duas áreas. Em vários encontros, elas alegavam que os profissionais da área da comunicação eram competentes no domínio de mídia, mas não tinham formação sobre e de educação suficiente para o que elas necessitavam. O inverso também ocorria, isto é, os profissionais de educação não tinham praticamente nenhuma formação para o uso de mídias. Tradicionalmente, as empresas contratam profissionais de comunicação e pedagogos, que integram equipes de consultoria de conteúdos. No entanto, a prática tem mostrado que essa estratégia não é suficiente para atender às necessidades das instituições.
revistapontocom – Por quê?Rosália Duarte – Porque, muitas vezes, o profissional da área de educação trazia um conteúdo extenso e prolixo que não dialogava com a linguagem da mídia. E por outro lado, as empresas estavam enfrentando dificuldades em oferecer ao profissional da comunicação todo o estofo de conteúdo da educação, como metodologia, didática, fundamentos. Estofo muito mais amplo e complexo. A formação em serviço não vinha surtindo o efeito desejado na produção, por exemplo, de planejamento de cursos, de criação de materiais didáticos, de roteiros de programas de TV, de produtos para a educação a distancia. E quando conseguiam formar, os profissionais acabavam sendo muito disputados pelo mercado. A partir desta constatação e de um olhar atento também da própria PUC-Rio sobre o mercado de trabalho, o Departamento de Educação então fez a proposta de criarmos o curso nesta interface, já na graduação.
revistapontocom – Um curso de quatro anos, em bacharelado.Rosália Duarte  Exatamente. Optamos pelo bacharelado e não pela licenciatura, como é oferecido, por exemplo, pela USP.
revistapontocom – Por qual razão?Rosália Duarte – Porque não queríamos esse profissional somente na escola. Queríamos ampliar o leque, possibilitar que ele pudesse atuar num campo muito maior, exatamente esse que era apresentado pelas empresas que nos procuravam. Nosso objetivo é formar um gestor de mídia em educação. Um profissional que, com sua equipe, seja capaz de criar um material didático para a escola, montar um curso a distancia para formação continuada dos funcionários de uma empresa, criar um programa de TV. É um profissional que não precisa teoricamente produzir, mas demandar. Para isso, ele precisa conhecer. É um profissional de educação, mas que conhece a linguagem da comunicação. Sabe pedir e sabe como se faz. Seu trabalho, desafio e atividade é gerir uma equipe de produção.
revistapontocom – Neste sentido, como foi pensada a estrutura do curso?Rosália Duarte – O curso tem 2.920 horas. Está estruturado em núcleos: o núcleo comum, que reúne disciplinas obrigatórias; o núcleo de optativas por área de conhecimento; e o núcleo de gestão de mídias em educação. Há disciplinas do Departamento de Educação que já existem, como Fundamentos da Educação, Didática e Avaliação. Mas há outras que foram criadas especialmente para o curso, como projeto e planejamento de produtos. Mas não é só isso. Os estudantes terão que cursar disciplinas, obrigatórias e optativas, de outras áreas de conhecimento de outros cursos da PUC. Há matérias do curso de Comunicação Social, Direito, Administração, Artes & Design, Psicologia, Sociologia e Informática. Esse novo curso é, portanto, fruto de uma parceria entre o Centro de Teologia e Ciências Humanas, o Centro Técnico Científico e o Centro de Ciências Sociais. Os estudantes farão estas matérias com os alunos matriculados nos respectivos cursos. Não haverá uma turma fechada. O Departamento de Educação poderia oferecer tais disciplinas específicas?  Sim, mas teria o nosso viés, o nosso olhar. Não queremos que o aluno olhe a mídia pelo campo da educação. Nossa proposta é que o estudante tenha o olhar do profissional, do mercado de cada área. Queremos que ele olhe a mídia pelo ponto de vista de quem produz e tem conhecimento. Que ele conheça a parte de planejamento, de direito autoral, de prática jornalística, de política pública com profissionais que estão ligados diretamente  a essas  áreas de conhecimento. Isso será muito mais rico para a formação. A ideia é que ele costure todos estes pontos de vista e siga uma perspectiva educacional. Como trabalho final do curso, o estudante terá que desenvolver um projeto de gestão de mídias para a educação. Um projeto que seja aplicável à realidade de um contexto, de uma empresa, de uma escola.
revistapontocom – É possível que o novo curso impacte o de Pedagogia?Rosália Duarte – De certa forma sim. As disciplinas que criamos para o novo curso, no âmbito do Departamento de Educação, poderão ser cursadas pelos alunos do curso de pedagogia. Acreditamos que isso vai favorecer uma maior integração para ambos os cursos. Neste sentido, a mídia, inclusive vai estar mais presente no curso de Pedagogia, reformulado recentemente, em 2009.
revistapontocom – Esta estrutura é inovadora na PUC?Rosália Duarte – Há uma experiência positiva no curso de Arquitetura, mas que envolve menos  cursos. Este realmente é pioneiro e acredito, inclusive, no Brasil. Vai ao encontro de uma nova estrutura universitária, sem dúvida, menos arrumada em departamentos e centros e mais integrada e interdisciplinar. Uma estrutura na qual o aluno constrói o seu plano de formação. Porém, não é nada fácil articular isso tudo na prática.
revistapontocom – Quais são os desafios?Rosália Duarte – Todo curso universitário tem como desafios: construir a identidade profissional e constituir uma formação sólida. Temos cursos tradicionais, como Direito, Administração, Economia, cuja identidade profissional já está dada há muito tempo. Nestas áreas, a preocupação recai apenas na formação. No nosso caso, teremos que investir nas duas frentes. Soma-se a isso o risco da fragmentação, em virtude do novo modelo, aulas em cursos e turmas diferentes. Por isso, já decidimos que cada estudante terá uma espécie de professor tutor que o ajudará, do primeiro até o último dia de aula, a fazer a costura de todo o curso. Se bem que esta nova geração parece lidar muito melhor com supostas fragmentações do que nós. Estamos seguros que vamos conseguir vencer esses desafios. Nossos cursos são muito bons, conceituados e com um corpo docente qualificado.
revistapontocom – O curso tem como foco os jovens que estão concluindo o ensino médio?Rosália Duarte – Achamos que o curso vai atrair profissionais que já atuam no mercado. Mas talvez em menor escala. Quem está no mercado tem experiência e conhecimento e talvez prefira se inscrever no nosso curso de especialização, que volta a ser oferecido no próximo ano, à noite. Por isso que optamos em oferecer o novo curso no turno diurno. Muito provavelmente o nosso público será de jovens que adoram tecnologia/mídia, mas não querem ser produtores, mas, sim, atuar no âmbito da educação, como gestores de mídia.
revistapontocom – Foi fácil sair do papel a proposta deste curso?Rosália Duarte – Foram três anos de trabalho, contando com uma equipe relativamente grande. Cinco pessoas do Departamento de Educação em constante conversa com os demais departamentos envolvidos e, também, com as empresas, os empregadores. Foram vinte versões até chegarmos a um consenso entre todos os departamentos. Em geral, não houve grandes resistências. Acho que todos os departamentos gostaram do resultado final.
revistapontocom – A criação do curso é uma prova da importância da mídia na educação?Rosália Duarte  Mídia e educação é uma ideia força. Não é possível para fazer educação sem mídia. Quanto a isso nunca foi necessário convencer ninguém. Mídia e educação estão/são casados. Não se faz uma coisa sem a outra.

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