Banalização da violência


Por Marcus Tavares (*)

Estava discutindo com estudantes o processo de produção de um telejornal e exibi um documentário sobre os fatos mais marcantes narrados pelas TVs abertas nas últimas décadas. O vídeo trazia um histórico de excelentes coberturas, cada vez mais competentes, interativas e em tempo real, fruto do avanço tecnológico. Chamaram a atenção dos alunos os recursos da produção, a postura dos repórteres e as matérias. As imagens, em sua grande maioria de violência, guerras e abandono, nem tanto.

As cenas  das reportagens, como a do ônibus 174, dos homens-bomba e do tiro dado, ao vivo, por um policial à queima-roupa, ao lado de um shopping — estas indo ao ar num telejornal vespertino de sábado, na década de 90 —, não impactaram, sensibilizaram. Prenderam a atenção apenas pelo contexto. Para os jovens, as imagens, embora ainda possam chocar, não são tão diferentes das do dia de hoje. Exemplos não faltam e estão todo dia nos telejornais.

Saí da aula certo de que a banalização das cenas de violência se perpetuou nas últimas décadas. E que, com isso, tais imagens são, na maioria das vezes, indiferentes para a atual geração. Lembro que, na minha adolescência, a banalização da violência era tema polêmico. 

Havia, de certo modo, uma discussão na imprensa e fora dela. Mas, hoje, parece que este debate está ultrapassado. É assim e pronto. “É normal, professor”, falam meus estudantes. 
Normal nesta cultura descartável-informativa-espetacularizada em que vivemos. Mas não é ‘normal’ do ponto de vista humano. Não pode ser. O mais grave é que esta banalização da violência, por meio das cenas e imagens, gravadas e ao vivo, ininterruptamente veiculadas pelas TVs e, atualmente, pelas mídias móveis, traz e causa, aos poucos, uma dessensibilização no ser humano. Uma dessensibilização do olhar e das narrativas, que acaba, portanto, impactando as relações interpessoais. 

Prego aqui a censura de tais cenas? Absolutamente. Mas o repensar sobre o impacto que elas nos causam seja em casa, na escola e nos meios de comunicação que veiculam, vendem e, em certo grau, lucram com tanta exposição. Do contrário, cada vez mais deixamos de ser... humanos. Para começar: que tal quantificar a quantas cenas violentas assistimos no dia a dia, apresentadas pela mídia?

(*) Professor e jornalista especializado em Educação e Mídia
Fonte: Jornal O Dia 10/08/2013

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