“E se aprender fosse o motivo da nossa existência?”
Por Vinícius Boprê
Henrique Vedana já foi presidente da AIESEC, a maior organização de estudantes universitários do
mundo. Já estudou por três anos na escola dinamarquesa de empreendedorismo e
inovação social Kaospilot. Em
tantas idas e vindas, descobriu que sua Henrique Vedana já foi presidente da AIESEC, a maior organização de estudantes universitários do
mundo. Já estudou por três anos na escola dinamarquesa de empreendedorismo e
inovação social Kaospilot. Em
tantas idas e vindas, descobriu que sua paixão é a sustentabilidade que, segundo
ele, também significa criar diálogos, estimular a economia colaborativa,
repensar a mobilidade urbana. Atrelado a tudo isso, Vedana, que vai palestrar
no TEDx Unisinos – evento que tem como tema Inovação em
Educação –, no dia 31 de outubro, acredita no poder da cocriação para resolver
problemas complexos da sociedade.
“O que eu pretendo discutir no dia é a necessidade de conectar
aprendizado com propósito. É tentar levantar a seguinte questão: E se aprender
fosse o propósito que todos compartilhamos, seja como indivíduos, como raça ou
como coletivo? Se fosse esse o motivo da nossa existência?”, explica. Esse tipo
de pergunta, ou melhor, de provocação, é o que guia grande parte de seu trabalho.
Crédito Julián Rovagnati |
Vedana, junto com mais três pessoas, fundou a Co-Criar, organização que ajuda grupos de pessoas, como
empresas, ONGs, escolas, institutos, a se entenderem melhor por meio de
conversas que valorizem a habilidade de cada membro para a realização de um
trabalho coletivo. “Quando as pessoas precisam resolver alguma coisa de forma
coletiva, mesmo que seja só para gerar reflexão ou aprendizado, nós somos
chamados para mostrar como a interação pode ajudar nesses processos, como a
inteligência coletiva pode emergir de um diálogo informal e ser eficaz para
atingir melhores resultados.”
O trânsito de uma grande cidade como São Paulo, por exemplo, é
um problema complexo. São várias as razões que podem influenciar seu mau
funcionamento: má distribuição das vias, superlotação e transporte de má
qualidade do transporte público. Neste caso, a solução não vai estar nas mãos
de um único engenheiro, político ou arquiteto. É um problema que demanda a
criação conjunta de novas ideias que sejam capazes de aproveitar a inteligência
coletiva de vários grupos ou pessoas.
Numa escola, por exemplo, os problemas podem ser tão complexos
quanto as avenidas de uma grande cidade. Os professores querem apoio logístico
e a valorização do seu trabalho. Os diretores, por sua vez, desejam gerir
melhor a escola, valorizando tanto o ensino como a obtenção de lucros. Os
alunos precisam de um aprendizado de qualidade, enquanto os pais esperam que
seus filhos tenham uma boa formação para competir no mercado de trabalho.
Em casos como estes, o primeiro
passo é conversar primeiro com cada um desses grupos. Depois, desenvolver um
pensamento sistêmico que organiza as demandas gerais para o melhor
desenvolvimento da escola e, por fim, fazer uma reunião com todos eles para
permitir que, nesse diálogo, surjam as ideias, que podem, ou devem, partir
desde os alunos até os cargos mais importantes da escola. “O objetivo nunca é
chegar com uma fórmula pronta ou esperar que alguém diga qual fórmula usar, mas
sim fazer com que as ferramentas que essa organização tem em mãos sejam usadas
das melhores maneiras possíveis”, diz Vedana, que também é antena do Porvir.
Sobre isso, ele conta que, certa vez, durante um evento sobre
inovação e estratégia teve uma conversa em que o filósofo dizia que, sobre a
natureza humana, temos, basicamente, duas crenças. A primeira delas é de que o
ser humano nasce selvagem, irresponsável e incapaz, que precisa ser vigiado,
comandado. A segunda é aquela que segue a ideia de que todo mundo nasce
perfeito, belo e criativo e capaz.
“Eu
acredito nessa segunda opção e o objetivo é cultivar essa beleza e
potencializar esse ser como alguém criativo e capaz de trazer soluções. O
segredo é confiar nele, porque, se você acredita, você dá autonomia, liberdade
e é disso que precisamos para alcançar objetivos comuns”, afirma Vedana e
completa: “Se você empodera alguém, ele se sente parte e é por isso que vai
estar sempre disposto a estar por perto, a ajudar. Se ele não se sentir parte
do todo, vai se desmotivar em questão de tempo”.
Educação para a
sustentabilidade
Outro projeto da Co-Criar é o Educação para Sustentabilidade,
que leva oficinas de sensibilização sobre o tema para diversas instituições. A
ideia aqui não é apresentar dados sobre a mobilidade urbana, a violência ou o
meio-ambiente, mas aproveitar o conhecimento de todos e tentar entender como
essas informações afetam suas vidas na prática.
“Não vou chegar na escola e dizer para criar um jardim, uma
horta e um minhocário para os alunos aprenderem biologia. A gente sabe que cada
lugar tem um contexto diferente, com habilidades diferentes e, por isso,
deixamos eles livres para a co-criação”. Segundo Vedana, o melhor aprendizado
não é aquele que se dá por meio de teoria, mas sim com a aplicação prática, por
isso, o objetivo é estimular a proposição de projetos e empoderar a equipe para
que eles possam realizar essa melhoria sozinhos, com suas próprias habilidades.
Vedana explica, por fim,
que todo seu pensamento se resume a estimular a vontade e a necessidade que as
pessoas têm de usar a criatividade para fazer a diferença no espaço em que
vivem. Para ele, as organizações não devem impor regras e atividades
pré-determinadas para seus funcionários, impedindo que eles tenham curiosidade
e vontade de mudar os padrões estabelecidos de trabalho. “Quando perdemos a curiosidade
de aprender algo novo, é nesse momento que morremos, porque a chama da vida
está ligada à curiosidade, que é inerente ao ser humano. Todos nós precisamos
querer aprender sempre”, conclui.
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