Sair ou não da caverna. Uma metáfora do mito de Platão
Por Cristiane Parente
Recentemente estive em um
workshop do Instituto Palavra Aberta, em Coimbra/Portugal, e os palestrantes relembraram a alegoria da caverna de Platão,
fazendo uma metáfora com o contexto atual, o que me pareceu extremamente
pertinente. Como gosto muito de compartilhar experiências e momentos
positivos, resolvi escrever sobre ele aqui no blog, para estimular que todos
nós pensemos um pouco no momento atual e no quanto Platão acaba por nos trazer
tantos elementos importantes.
A alegoria da caverna de Platão
é uma das principais da filosofia e através dessa metáfora conhecemos uma das
teorias platônicas acerca do conhecimento. O mito fala sobre pessoas que desde
que nasceram estavam presas e acorrentadas em uma caverna cuja única luz que
enxergam é a de uma fogueira. Essa fogueira projeta imagens de fora numa parede
ao fundo da caverna. São sombras de estátuas representando pessoas, animais,
plantas e objetos (por vezes assustadoras), mostrando cenas e situações do
dia-a-dia. Os prisioneiros passam o dia a ver essas imagens, analisá-las e a
dar nomes a elas.
Platão dizia que se uma
pessoa se libertasse daquelas correntes, fosse para fora da caverna, visse que
aquelas imagens eram apenas reflexos e voltasse para contar que as pessoas
poderiam sair seguras porque não havia nem demônios nem feras, as pessoas que
estavam na caverna não acreditariam e continuariam presas.
Naquela época, Platão não
estava preocupado com mídias. Ele estava preocupado com Sócrates, que havia
sido condenado e executado por perversão da juventude ateniense. E ele, como
seu discípulo, tinha medo que ocorresse o mesmo com ele, por falar a verdade.
A analogia que Platão tece
com o que acontece com as mídias, tem inspirado muitos autores a trabalhar o
mito e a ideia de manipulação das mídias. Cristina Costa ressalta duas coisas
sobre a ciência da comunicação que podemso extrair da alegoria da caverna de
Platão: a manipulação da mídia e o habitus,
conceito criado por Bourdieu e que de forma simplificada podemos expressar da
seguinte forma: o que a mídia faz não é simplesmente manipular ou publicar fake
news, mas habituar as pessoas a um tipo de um discurso. Ou seja, é a
predisposição ou receptividade a um determinado discurso de uma determinada
mídia, que pode ser um jornal, um telejornal, as mensagens de alguém, etc
No
caso da caverna de Platão, aquelas pessoas não estavam presas apenas ao encanto
das imagens refletidas na parede, mas ao habitus,
ao consumo, ao fascínio.
Remetermo-nos à caverna
de Platão, significa pensar como ainda estamos fascinados com as imagens, o
quanto ainda nos deixamos levar pelo fascínio que elas evocam em nós, a ponto
de ao invés de questionar se uma imagem é ou não verdadeira, ficamos em
discussões estéreis acerca de seus personagens e outros pontos menos
importantes. Será que acreditamos que a imagem é objetiva? Esquecemos que por
trás da imagem há um ser humano que escolhe um ângulo e um personagem para
personificar uma história? Será que lembramos que a junção de duas imagens
aparentemente independentes pode induzir e criar associaçõesbem pouco
inocentes? O que falta para sairmos da caverna e nos libertarmos das correntes
que ainda nos aprisionam ao habitus?
Publicada em Maio de 2018 no Blog Educação & Mídia (Gazeta do Povo/ Instituto GRPCOM)
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