Campanhas de desinformação ao redor do mundo estão aumentando, mostra novo estudo
Brasil é um dos países em que partidos polítcos espalham mentiras na internet, diz relatório de Oxford
Davey Alba, Adam Satariano, do New York Times e O Globo - 26/09/2019
Apesar do aumento dos esforços de plataformas da internet como o Facebook para combater a desinformação na internet, o uso de técnicas de manipulação por governos de todo o mundo está crescendo, de acordo com um relatório divulgado nesta quinta-feira por pesquisadores da Universidade de Oxford. Os governos estão espalhando desinformação para desacreditar seus oponentes políticos, calar pontos de vista divergentes e interferir nos assuntos externo, aponta o relatório, intitulado "Tropas Virtuais".
O Brasil é um dos países onde há campanhas de desinformação política e de mentiras profissionalizadas, segundo o estudo, que classifica o país em um nível de capacidade de manipulação “médio” — o segundo mais alto. O relatório, que avalia a desinformação digital em 70 países, identificou que o Brasil tem grupos profissionais de desinformação ligados a partidos políticos e a empresas privadas, que empregam táticas de apoio, ataques a opositores, distração de assuntos, fomento de divisões e supressão de pontos de vista divergentes.
O estudo não diz os nomes dos partidos e grupos responsáveis pela desinformação, mas indica a eleição de 2018 como uma “instância de partidos políticos propositalmente espalhando ou ampliando a desinformação nas redes sociais”, por meio do WhatsApp. Além do aplicativo de trocas de mensagens, as plataformas mais comuns para espalhar informações falsas no país são Youtube e Facebook, diz o estudo. O trabalho também aponta que robôs e humanos controlam contas falsas com objetivos políticos no Brasil.
Os pesquisadores compilaram informações de organizações de notícias, grupos da sociedade civil e governos para criar um dos inventários mais abrangentes de práticas de desinformação por governos em todo o mundo. Eles descobriram que o número de países com campanhas de desinformação política mais do que dobrou nos últimos dois anos, com evidências de pelo menos um partido político ou entidade governamental em cada um desses lugares envolvidos na manipulação de mídias sociais.
Além disso, o Facebook continua sendo a principal rede social de desinformação, segundo o relatório. Campanhas de propaganda organizada foram encontradas na plataforma em 56 países.
— A tecnologia das mídias sociais tende a fortalecer a propaganda e a desinformação de maneiras realmente novas — disse Samantha Bradshaw, pesquisadora do Instituto de Internet de Oxford e coautora do estudo.
O instituto trabalhou anteriormente com a Comissão de Inteligência do Senado para investigar a interferência russa na campanha de 2016.
O relatório destaca dificuldades enfrentadas por Facebook, Twitter e YouTube quando tentam combater a desinformação e, principalmente, enfrentam governos. As empresas anunciaram mudanças internas para reduzir a manipulação e interferência estrangeira.
Mas a pesquisa mostra que o uso das táticas, que incluem bots , contas falsas nas redes sociais e “trolls” contratados, está crescendo. Nos últimos dois meses, as plataformas suspenderam contas vinculadas a governos da China e da Arábia Saudita.
Ben Nimmo, diretor de investigações da Graphika, empresa especializada em análise de mídias sociais, disse que o crescente uso da desinformação da internet é preocupante para as eleições de 2020 nos Estados Unidos. Uma mistura de grupos nacionais e estrangeiros, operando de forma autônoma ou com vínculos frouxos com um governo, está se desenvolvendo a partir dos métodos usados pela Rússia nas últimas eleições presidenciais, dificultando o policiamento das plataformas, afirmou.
— O perigo é a proliferação das técnicas — disse ele. — Qualquer pessoa que queira influenciar a eleição de 2020 pode ficar tentada a copiar o que a operação russa fez em 2016.
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