“A desinformação passou a ser usada como estratégia política”

Notícias falsas existem desde o início da humanidade, mas tiveram um impulso astronômico com o aumento da capacidade de ampliação do discurso diante do surgimento das redes sociais. O termo “fake news” passou a integrar o vocabulário de diversas sociedades e a desinformação impacta diretamente a vida política, empresarial e social do país. É neste cenário que o jornalismo busca uma reinvenção.
Fundada em 2015, a Agência Lupa é a primeira do Brasil a se especializar em fact checking, ou seja, a checagem de fatos. Em entrevista ao Imil, Gilberto Scofield, atual diretor de Estratégias e Negócios da Lupa, contou um pouco sobre o trabalho de combate às notícias falsas no país.
Diariamente, a equipe da Agência Lupa acompanha o noticiário em busca de informações imprecisas. Elas são checadas com base em banco de dados oficiais e verificáveis, sejam eles públicos ou organizados por institutos de notório saber. O resultado é repassado a veículos de comunicação e publicado no site da Agência. Além de verificar declarações, o projeto também analisa produções sem autores específicos, como “memes” e correntes de Whatsapp. Entre janeiro de 2016 e dezembro de 2019, foram feitos 2.000 posts referentes a, pelo menos, 10 mil afirmações analisadas.
“Uma terceira linha de negócio é a educação e treinamento. Vamos nas universidades, nas corporações e institutos ensiná-los a usar as ferramentas básicas de checagem, além de falar sobre como desenvolver um pensamento crítico com relação ao que você recebe antes de compartilhar, ou seja, saber como se resguardar e checar se aquilo é verdadeiro ou falso antes de passar adiante”, explica, relembrando que, desde 2017, mais de 4.500 pessoas, entre estudantes de jornalismo, jornalistas e executivos, participaram do projeto. “Nós estamos agora fazendo o treinamento de todo o sistema eleitoral brasileiro, com os 27 TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) do país para as eleições de 2020, além de mais 15 jornalistas de cada capital, que pretendemos usar no próximo pleito”.
Gilberto lembra que, apesar de sempre existirem, as notícias falsas têm sido usadas como estratégia política organizada, criando uma onda permanente de desinformação. Neste sentindo, está a importância das agências de checagem. No entanto, só isso não é suficiente.
“O impacto desse trabalho é grande porque você consegue desconstruir uma série de teorias da conspiração ou manipulações do que é verdade dentro do debate eleitoral, que é um dos pilares do nosso processo democrático. Existir alguém tentando minar esse pilar da democracia é um problema grave. Na verdade, há uma tentativa generalizada de minar instituições e dados fornecidos oficialmente… Uma tentativa de enfraquecer a narrativa do outro e dizer que nada se comprova, tudo é subjetivo. O que é uma falácia. As agências de checagem conseguem chegar na informação verdadeira para desmontar esses discursos manipuladores, o que é muito importante, mas não é suficiente. A possibilidade de espalhar mentira é muito mais fértil e veloz. Precisamos formar um exército para ajudar a gente nisso”, acredita.
O especialista acredita que a grande polarização presente na sociedade brasileira pode fazer com que a maioria dos internautas continue acreditando em notícias falsas. Para Gilberto, é preciso aumentar o alcance da educação midiática no Brasil. “Ampliar para a população que não tem acesso a essas ferramentas de forma gratuita, buscar financiamento que nos permita encontrar, por exemplo, fundações e empresas preocupadas com essas questões e que queiram nos ajudar em projetos, onde possamos levar o uso de ferramenta básica de checagem e do pensamento crítico para comunidades periféricas, fora do eixo das capitais”.

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