Ensinem jornalismo às crianças

Por Gilberto Dimenstein

Isadora Farber tornou-se, em poucos dias, uma pequena heroína da educação brasileira. Com sua página na internet, chamou atenção nacional para os problemas de sua escola pública em Florianópolis e, até ontem de manhã, já tinha quase 150 mil seguidores. Diante da repercussão nacional, o poder público decidiu reformar a escola.

Ter 150 mil seguidores no Facebook, quando se tem 13 anos de idade, já é muito difícil. Ter tudo isso falando de educação, posso assegurar que é um case mundial do uso das redes sociais para melhorar o ensino.

Temos aí uma lição, que venho observando há muitos anos: a importância de ensinar as crianças e jovens a lidar com os meios de comunicação, produzindo conteúdos.

É um ótimo gancho para se trabalharem outras matérias, muitas delas desconectadas do cotidiano. Desenvolve-se a capacidade de síntese e de expressão --além da língua portuguesa. É um jeito de gerar jovens mobilizadores para problemas comunitários.

Para completar, o ensino da mídia dá um poder para se ter mais diálogo e transparência na sociedade, especialmente entre os com menos voz. Alunos de escolas pública como Isadora, por exemplo.

Por fim, teriam mais condições de não serem manipuladas por nós, jornalistas.
Por essas e outras, uma das áreas mais interessantes no campo acadêmico é o ensino da educação, que tem uma graduação na USP --o ensino da comunicação para a educação.
Gilberto Dimenstein
Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.
Fonte: Folha de São Paulo 29/08/2012

Saiba mais sobre a história de Isadora Farber nas matérias abaixo:

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Matéria do G1 de 27/08/2012:


Aluna cria página no Facebook para relatar problemas da escola em SC

Estudante de 13 anos mostra infra-estrutura de escola de Florianópolis.
Secretaria Municipal de Educação ainda não se posicionou sobre o caso.

Adolescente criou página para comentar problemas da escola (Foto: Reprodução/Facebook)Adolescente criou página para comentar problemas da escola (Foto: Reprodução/Facebook)







Ao criar o 'Diário de Classe', uma comunidade virtual no Facebook, Isadora Faber diz que não imaginava a repercussão. Queria que as portas e fechaduras de sua escola fossem consertadas e as aulas na escola em que estuda, em Florianópolis, melhorassem. A irmã mostrou uma página semelhante, de outra aluna, e ela resolveu resolveu criar a própria.
Foto da porta sem fechadura foi a segunda postagem de Isabela (Foto: Divulgação/Facebook)Foto da porta sem fechadura foi asegunda postagemde Isadora (Foto: Divulgação/Facebook)
A primeira postagem foi sobre a porta do banheiro feminino, com recados escritos. Depois, a porta sem fechadura, os fios do ventilador à mostra, o vaso sanitário sem tampa, os bancos do refeitório quebrados, o balde utilizado como lixeira, e pouco a pouco ela mostrou problemas na estrutura da escola municipal em que estuda, Maria Tomázia Coelho, no Bairro Santinho.
A página no Facebook foi criada no dia 11 de julho deste ano e até às 14h desta segunda-feira (27) já tinha 2388 seguidores, com o número crescendo gradativamente. Segundo ela, esperava no máximo ter 100 seguidores e está feliz com o resultado, embora os pais tenham sido chamados duas vezes à escola. "Eles ameaçaram me processar, queriam que tirasse a página do ar. Enfim, não gostaram nada da história".
Para a diretora da escola, a aluna postou fotos de alguns problemas que já haviam sido resolvidos. Além disso, ela afirma que há muitas ações em que a escola é destaque, inclusive mostrados no Facebook. "Há problemas, mas procuramos sempre resolver. Temos uma equipe que cuida de várias escolas da rede. Temos um espaço democrático, que se efetiva nos conselhos de classe. Seria interessante se as pessoas participassem desses espaços. Aí sim poderiamos resolver os problemas corretamente", comentou ela. 
A mãe de Isadora, Mel Faber, afirma que, apesar de terem ido duas vezes à escola, ela e o marido estão apoiando a filha. "Ela começou com a intenção de mobilizar a comunidade e levantou uma bandeira muito forte, pedindo para os colegas apoiarem. Ela está exercendo sua cidadania e desde o início disse pra ela que não era uma revolucionária de Facebook, mas teria que ir à escola e enfrentar as consequências. Ela disse que iria até o fim e vai mesmo", afirmou ela, que também ficou surpresa com a repercussão, mas não pretende repreender a filha.
De acordo com a mãe, depois da criação da página, a Secretaria Municipal de Educação fez uma auditoria na escola e alguns problemas, como as fechaduras, já foram solucionados. Para uma professora da escola, o problema não é a manifestação da aluna, mas a abertura para outros comentários ofensivos. "A profissão de professor já é tão difícil e muitos comentários ainda estão nos desvalorizando ainda mais", desabafou ela.
A Secretaria Municipal de Educação tomou conhecimento do caso nesta segunda-feira (27) e fará uma reunião, juntamente com a diretora da escola, antes de se posicionar sobre o assunto.
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Matéria do G1 de 28/08/2012:

Após reclamação no Facebook, prefeitura diz que vai reformar escola

Estudante de 13 anos mostra infraestrutura de escola de Florianópolis.
Secretaria de Educação realizou reunião para analisar reclamações.



Adolescente criou página para comentar problemas da escola (Foto: Reprodução/Facebook)Adolescente criou página para comentar problemas da escola
(Foto: Reprodução/Facebook)
A Secretaria de Educação de Florianópolis anunciou nesta terça-ferira (28) que vai reformar a escola Básica Maria Tomázia Coelho, no Santinho, Norte da Ilha de Santa Catarina. É nesta escola que estuda Isadora Faber, de 13 anos, que criou uma página de reclamações no Facebook, intitulado Diário de Classe, reivindicando melhorias no estabelecimento de ensino.
“Essa página veio inclusive nos auxiliar no monitoramento da escola. É uma espécie de ouvidoria”, diz Sidneya Gaspar de Oliveira, secretária de educação. Segundo informações publicadas na página da secretaria, a diretora da escola, Liziane Diaz Farias, assumiu, durante a reunião, a responsabilidade por haver em sua escola uma gestão deficitária. “Eu assumo publicamente que ocorreu fragilidade na administração do estabelecimento. Vamos a partir de agora trabalhar de forma diferente a parte administrativa e a preservação do patrimônio público”.

Segundo a Secretaria de Educação, ainda nesta terça-feira (28), foi reiniciada a manutenção na escola. Em julho, foram trocadas 13 luminárias que, no momento, já foram danificadas. Haverá também reparos nos banheiros e em outros setores da unidade. “Fizemos uma série de melhorias, mas infelizmente não houve a colaboração da comunidade escolar para evitar vandalismos”, diz o Diretor de Infraestrutura, Maurício Amorim Efe.
A diretora da escola diz que fará um apelo à Associação de Pais e Professores, para que ajudem principalmente no cuidado com a estrutura física. Haverá também campanhas para que os alunos se conscientizem da necessidade de se engajarem no zelo de todo o ambiente escolar. “Os alunos tem que saber que a participação deles é fundamental para preservar um bem público”. Além disso, coloca, que vem participando de formação para criar o Conselho Escolar, que auxiliará na manutenção do estabelecimento e na gestão administrativa, pedagógica e financeira.
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Matéria do G1 de 29/08/2012
Isadora Faber volta à escola após repercussão de página no Facebook

Garota acompanhou de perto as reformas já realizadas na unidade escolar.
Diário de Classe criado por ela já tem mais de 160 mil curtidas na internet.



Ziggy, Isadora e Difé (Foto: Fernanda Burigo/G1)Ziggy, Isadora e Difé, o cachorro que salvou a menina de dois pitbulls (Foto: Fernanda Burigo/G1)







No seu primeiro dia de aula depois da repercursão na mídia da sua página no Facebook, o Diário de Classe, a estudante Isadora Faber já conseguiu conquistar o que mais queria, o apoio dos seus colegas da Escola Maria Tomázia Coelho, no Santinho, em Florianópolis. "Quando eu cheguei muitos estudantes vieram falar comigo, me apoiar e parabenizar. Também escreveram  'Parabéns Diário de Classe' no quadro da sala", diz a estudante da 7ª série.
Segundo Isadora, ao contrário dos colegas, os professores e a diretoria não se manifestaram, nem de maneira negativa, nem positiva. Outra surpresa na manhã desta quarta-feira (29) foram as reformas que começaram. Portas arrumadas, novas luzes, bebedouros consertados.
Cansada de ver a situação em que sua escola se encontra, a estudante de 13 anos resolveu postar fotos em um perfil no Facebook para revelar os problemas da instituição de ensino. A página foi criada no dia 11 de julho deste ano. A menina tímida, de fala calma, diz que não vai parar por aqui e pretende acompanhar e relatar na página do Facebook o passo a passo da reforma. A secretária de Educação de Florianópolis, Sidneya Gaspar de Oliveira, afirma que a Secretaria está fazendo a manutenção física da unidade desde o início do ano.
Diário de Classe, criado por Isadora Faber, já tem 160 mil curtidas (Foto: Fernanda Burigo/G1)Diário de Classe, criado por Isadora Faber, já tem
160 mil curtidas (Foto: Fernanda Burigo/G1)
Sobre seu futuro Isadora diz que não sabe desde quando decidiu, mas que quando crescer quer ser jornalista. "Apesar de tímida, a Isadora sempre foi muito questionadora. Desde pequena ela dava respostas que iam muito além para a idade dela. Ela também sempre gostou de uma polêmica, vai ser daquelas jornalistas odiadas", diverte-se a mãe Mel Faber.
Única da família gaúcha que nasceu em Florianópolis, Isadora torce pelo Grêmio, e diferente de muitas meninas da sua idade não gosta das músicas do Justin Bieber. "Eu gosto de rock mesmo, Guns N' Roses, Nirvana, Red Hot Chilli Peppers". Segundo sua mãe, a rotina de Isadora é basicamente ir para a escola e usar o computador. "Quando eu volto da escola, eu faço o que tenho que fazer, vou postar no Diário de Classe ou vou para casa da minha melhor amiga, a Melina", diz Isadora.
Em uma casa na praia do Santinho, Isadora mora com os pais, a irmã do meio, Eduarda, de 15 anos, a avó materna e dois cachorros, o Ziggy e Difé. O último, que seguiu a família quando se mudaram de uma pousada para a atual casa, é considerado muito especial por todos. "Ele salvou a minha vida ano passado. Dois pitbulls me encurralaram em um beco aqui na minha rua e o Difé foi para cima deles. Depois teve que fazer cirurgia e perdeu todos os dentes de um lado da boca", conta Isadora.
Na tarde de segunda-feira (27), quando o G1 publicou a primeira reportagem sobre o caso, o Diário de Classe tinha 2.388 seguidores. Até às 17h de quarta-feira (29), a página no Facebook já tinha 161.077 curtidas.
Fonte: G1 Fernanda Burigo 29/08/2012

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