Plataforma de cursos pela internet de Harvard e do MIT terá código aberto
Universidades poderão usar a estrutura para montar seus cursos online.
Presidente do edX anunciou abertura em palestra em SP na quinta (04/04).
Anant Agarwal, presidente do edX, duranteevento em São Paulo (Foto: Ana Carolina Moreno/G1) |
Pouco mais de um ano depois de anunciar seu primeiro curso online gratuito, a plataforma edX, criada em uma parceria da Universidade Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), reuniu 850 mil alunos de 192 países e agora se prepara para seu próximo passo: liberar gratuitamente o código da plataforma para que qualquer instituição, empresa, grupo ou indivíduo possa usar a estrutura e oferecer seus próprios cursos pela internet. O anúncio foi feito no Brasil por Anant Agarwal, presidente do edX e professor do MIT, na tarde da quinta-feira (4). Ele justificou a decisão dizendo apenas que "é a coisa certa a se fazer".
Agarwal foi o principal palestrante do Transformar, evento realizado em São Paulo para centenas de pessoas ligadas à educação. O professor mostrou aos participantes como funciona o edX e defendeu o uso da tecnologia para mudar um cenário educacional que, segundo ele, não vê inovações relevantes há 150 anos.
"Se alguém pegasse no sono numa sala de aula do MIT há 50 anos e acordasse hoje no mesmo lugar, ele não perceberia que tanto tempo passou", afirmou Agarwal. "A tecnologia produzida nas universidades hoje é aplicada todos os dias em todas as áreas, mas não mudou muito o campo da educação. Como educadores, deveríamos ter vergonha."
Ao custo de cerca de R$ 120 milhões, Harvard e MIT criaram uma plataforma que rapidamente se tornou o equivalente do ensino superior da Khan Academy, criada pelo educador Salman Khan, que já tem quase 4 mil vídeos de diversas disciplinas, principalmente de ciências da natureza e do ensino fundamental e médio. Khan hoje já acumulou mais de seis milhões de visualizações aos seus vídeos e foi aluno de Agarwal no MIT --no curso presencial, anos antes de ambos se aventurarem no campo da educação online.
Código aberto
A partir de 1º de junho, qualquer pessoa poderá usar gratuitamente o código da plataforma do edX para fazer o seu próprio site de cursos online. A estrutura inclui o processamento dos dados dos estudantes, tanto pessoais quanto de seu desempenho nos curtos, além de um fórum de discussão e da tecnologia de correção em tempo real dos exercícios.
Agarwal compara o edX a um "acelerador de partículas do aprendizado", uma instituição sem fins lucrativos que facilita e acelera o acesso de pessoas de qualquer parte do mundo aos mesmos cursos oferecidos em instituições de ensino do mundo todo, com o mesmo rigor exigido dos alunos presenciais. Apesar de o código ser aberto a qualquer pessoa, segundo Agarwal, apenas uma das 12 universidades participantes do edX --a Universidade de Tecnologia Delft, da Holanda-- autorizou que o seu conteúdo de aulas também fosse oferecido abertamente nas plataformas que usem o código da original.
Ele afirmou que a oferta de mais cursos pode criar um mercado de cursos online, gratuitos ou não, que acabe se regulando de acordo com rankings criados com o apoio dos próprios estudantes dos cursos. Mas tudo vai depender da qualidade que as universidades investirem tanto nas aulas online quanto nas presenciais. Como não precisa ter lucro e sua equipe enxuta, o edX pretende se manter financeirametne oferecendo suporte aos usuários de seu código, ou hospedando as plataformas criadas a partir dele.
Modelos de inovação para o Brasil
O edX foi apresentado em São Paulo ao lado de outras iniciativas dos Estados Unidos e do próprio Brasil. Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, um dos realizadores do evento, afirmou que o Transformar tem como objetivo mostrar aos gestores, professores e especialistas em educação algumas formas de inovação na educação. Segundo ele, não existe uma "receita de bolo" para solucionar os problemas da educação no Brasil, mas o governo deve investir em inovação para testar novos modelos.
O edX foi apresentado em São Paulo ao lado de outras iniciativas dos Estados Unidos e do próprio Brasil. Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, um dos realizadores do evento, afirmou que o Transformar tem como objetivo mostrar aos gestores, professores e especialistas em educação algumas formas de inovação na educação. Segundo ele, não existe uma "receita de bolo" para solucionar os problemas da educação no Brasil, mas o governo deve investir em inovação para testar novos modelos.
"Mas precisa qualificar o que é inovação. Não é só fazer diferente, porque não vai dar certo", afirmou ele. Mizne indicou, porém, que algumas tendências mundiais que têm dado resultado passam pela personalização do ensino, que aumenta a motivação dos alunos por meio da oferta de um conteúdo de qualidade que apenas os professores sozinhos não são capazes de oferecer em salas de aula muito grandes. "O peso nas costas do professor é muito alto."
Pela manhã, o Transformar recebeu especialistas para compartilhar experiências que reinventaram o ensino e a sala de aula. Uma das participantes foi Melissa Agudelo, representante da High Tech High, um modelo de ensino utilizado em São Diego, nos Estados Unidos, que defende “a conexão da escola com o mundo.”
“É preciso sair da sala de aula para ver o mundo”, diz. O modelo do High Tech High prevê aulas práticas fora da aula, encontros com diversos profissionais, e ainda “trabalhos com algo significativo” no caso dos alunos mais velhos. O sistema da High Tech High é aplicado em 11 escolas públicas de São Diego, nos Estados Unidos, sendo cinco de ensino médio e seis de ensino fundamental.
“Separar os alunos pelas habilidades não os beneficia, eles precisam estar na mesma sala ao mesmo tempo”, afirmou Melissa. Pelo modelo, não há separação por séries, e o ensino personalizado valoriza as paixões dos alunos e o currículo é mais integrado. Um professor de matemática, por exemplo, não precisa necessariamente dar aulas somente de ciências exatas. “Dessa forma a aprendizagem se torna mais significativa.”
Sócrates, Salman Khan e a cola
Em entrevista após sua palestra, Anant Agarwal afirmou que sua visão do futuro não envolve o fim do professor, nem da escola. Mas, em vez de auditórios imensos onde centenas de alunos recebem o conteúdo do professor, ele acredita que as universidades tenderão a criar espaços menores onde a função do professor não será dar o conteúdo, e sim ajudar os alunos a processar o conteúdo. Isso pode acontecer, segundo ele, a partir dos primeiros anos da escola formal, pois as crianças começam a dominar a tecnologia cada vez mais cedo.
Em entrevista após sua palestra, Anant Agarwal afirmou que sua visão do futuro não envolve o fim do professor, nem da escola. Mas, em vez de auditórios imensos onde centenas de alunos recebem o conteúdo do professor, ele acredita que as universidades tenderão a criar espaços menores onde a função do professor não será dar o conteúdo, e sim ajudar os alunos a processar o conteúdo. Isso pode acontecer, segundo ele, a partir dos primeiros anos da escola formal, pois as crianças começam a dominar a tecnologia cada vez mais cedo.
O professor do MIT explicou que o modelo de aulas oferecido no edX se trata de uma adaptação, ao formato virtual, de uma metodologia pedagógica já consagrada: o método socrático. "Há estudos de décadas atrás mostrando que estudantes retêm mais o material da aula quanto melhor o professor consegue engajá-los", explicou.
Pela internet, o modelo usado no edX segue o que Agarwal chama informalmente de Estilo Khan de Vídeos (KVS, na sigla em inglês), referindo-se ao modo como o educador Salman Khan, criador da Khan Academy, consegue transmitir o conhecimento de várias disciplinas em vídeos originalmente publicados no YouTube. No KVS, o aluno é exposto a uma explanação breve --no caso da internet, vídeos de até no máximo dez minutos-- e, depois, é instado a fazer um exercício interativo.
Os mecanismos de correção dos exercícios são outro ponto que podem ajudar não só o professor a ganhar tempo, mas o aluno a permanecer interessado no conteúdo. "Quando o aluno recebe um retorno instantâneo, ele pode refazer o exercício também na hora até acertar", diz. O interesse, porém, pode cair se o professor levar dias para devolver o exercício e pedir que o aluno o refaça.
Para uma questão clássica da escola, porém, o edX ainda não achou uma solução definitiva: alunos que colam na prova. Segundo Agarwal, no caso de empresas que exigem uma comprovação além do certificado de conclusão do curso oferecido pelas universidades, foi feita uma parceria com a empresa Pearson para que ex-alunos da plataforma façam um exame presencial elaborado pelo edX para provar que assistiram às aulas e não tiveram ajuda para resolver os exercícios. Mas, nos demais casos, a resposta do professor do MIT é simples: "Se o aluno colou ou não, quem se importa? Se ele colar, ele não aprende."
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