O segredo das escolas de sucesso

Alexandre Cassiano/ Agência O Globo /
Christopher Day, professor emérito da Universidade de Nottingham
(Foto:
Alexandre Cassiano/ Agência O Globo)

Ao longo dos últimos 20 anos, o pesquisador inglês Christopher Day tem se dedicado a pesquisas sobre gestão nas escolas. O interesse pela Educação surgiu na sala de aula, quando era aluno e escolheu seguir o magistério porque teve péssimos professores. Decidiu que queria ser melhor que eles. Hoje, como professor emérito da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, coordena um estudo em 20 países sobre como é a liderança em colégios de sucesso. O Brasil pode aumentar essa lista em breve.
O senhor pode falar sobre seus estudos nessas escolas consideradas de sucesso em 20 países?
Há 13 anos, me pediram para fazer pesquisas sobre como os professores podem contribuir para os resultados dos alunos. Quando eu e meus colegas começamos a investigar, encontramos muitos artigos sobre como os professores trabalham, mas poucos baseados em observação e entrevistas com diretores, estudantes, professores e parentes. Fiquei surpreso. Depois do trabalho feito no meu país, tive um encontro com colegas de universidades de outros países. Então, decidimos que seria vantajoso juntar os estudos para ver se o trabalho dos diretores é igual em um país e em outro, em busca de trabalhos bem-sucedidos dos líderes das escolas. Começamos a construir o que é a maior base de dados de escolas bem-sucedidas, agora, em 20 países. Temos cerca de 120 escolas.
Qual é a diferença entre o gestor de sucesso e os que não têm o mesmo resultado?
A primeira é o resultado dos alunos nos testes. É parte do trabalho da escola educar estudantes para que tenham bons resultados nas provas. Mas também descobrimos que há princípios iguais em várias escolas. Um deles é fazer com que os alunos se sintam bem, tenham saúde emocional. Assim, os alunos podem ser cidadãos e contribuir com a sociedade. Isso é tão importante quanto os resultados acadêmicos. Porém, durante nossos estudos, levamos em conta também as escolas que se preocupam em fazer um trabalho não só com os alunos bem-sucedidos academicamente, mas com aqueles que não têm resultados tão bons. Chamamos isso de igualdade ou justiça social.
O que esses líderes de sucesso têm, especificamente?
Eles têm muito mais semelhanças do que diferenças. Aprendemos com os líderes de sucesso que não é preciso ter valores parecidos, mas saber como aplicar os princípios, considerando a situação em que a escola está inserida, combinando essas estratégias com sua realidade. É necessário levar em conta algumas questões: a vizinhança em que a escola está inserida, a relação da comunidade com a escola, os professores.
O que achou das escolas daqui?
Fomos a uma escola municipal no Rio de Janeiro. A escola tinha uns 300 estudantes, falamos com a diretora, com algumas crianças e demos uma volta nas salas de aula. A diretora estava lá há mais de 20 anos. Uma das perguntas que eu fiz era se aquela era uma escola de sucesso. Ela disse que sim. Eu perguntei como ela podia afirmar isso. E ela respondeu que a maioria das crianças, quando saía da escola, sabia ler e escrever. Questionei como ela conseguia isso. E ela deu duas respostas. A primeira foi que todos os professores tinham vontade de ensinar e, quando enfrentavam problemas, se uniam para resolver. A segunda foi bem interessante: a forte ligação com os pais. Ela os convida a participar do colégio. Se analisarmos pela ótica das escolas bem-sucedidas pelo mundo, encontramos o mesmo, um forte relacionamento com os pais, mesmo quando eles não querem isso. Mesmo quando os pais resistem, o diretor faz questão que eles frequentem a escola, mostrando a importância disso.
Existe alguma curiosidade sobre essas escolas bem-sucedidas?
Os diretores não saem da escola. Eles têm comprometimento com a comunidade. O fato de eles permanecerem ali passa para a comunidade uma mensagem de que aquela pessoa se interessa pelo progresso da escola. É uma mensagem poderosa: sou um professor dessa comunidade, comprometido com ela. Você observa que esses professores são inquietos, estão sempre procurando outros desafios e maneiras de desenvolver a escola e os estudantes.
O senhor pode nos dar o exemplo de uma escola que não tinha comprometimento com esses princípios e passou a ter?
Vou dar o exemplo de uma escola que estava para fechar, localizada em uma zona de conflito. Uma vez, numa manhã, uma pessoa foi encontrada morta na porta. Nove anos depois, a comunidade é a mesma, mas o colégio agora pode ser descrito como um oásis. Foi transformado. Uma nova diretora entrou. Ela assumiu em setembro e começou mandando pintar todas as paredes das salas de aula, para que, quando as crianças voltassem das férias, já percebessem que algo havia mudado.
O que mais ela fez?
Ela promoveu encontros com os pais e estabeleceu uma relação próxima com a comunidade. Além disso, em vez de entrar na escola e apenas se sentar atrás de uma mesa, ela foi para as salas dar aula com os professores. Ela fez com que eles melhorassem. Outra iniciativa importante foi tentar resolver a ausência dos alunos. Se um estudante não aparecia, ela não esperava para ver o que ia acontecer. Tentava um contato por telefone com os pais e chegava até a fazer uma visita à casa do aluno. Vale destacar que os professores que estavam na escola quando os resultados eram ruins continuam lá.
Existe uma avaliação no Brasil que atribui notas às escolas. Às vezes, há colégios com avaliações bem diferentes, localizadas no mesmo bairro. O que o senhor acha desse método?
Esse é um bom sistema para tentar descobrir por que uma escola está melhor do que outra na mesma comunidade. Minha sugestão é pegar essas avaliações e ver as diferenças dos líderes das escolas. Suspeito que a resposta estará aí.
Como o senhor vê o uso de tecnologias nas escolas? Elas são realmente essenciais?
O mais importante, claro, é o professor. Mas, óbvio, o mundo muda, e a escola tem que mudar junto. Em muitos países, muitas crianças ficam mais tempo interagindo com a tecnologia fora da sala de aula do que passam dentro da escola. Isso me diz que temos que abraçar a tecnologia na Educação se ainda queremos exercer influência nos estudantes. Isso não substitui o professor, mas ele tem que abraçar a tecnologia se quiser continuar sendo efetivo na sua maneira de ensinar.
Fonte: Gazeta do Povo 26/03/2013

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