Cinema nas escolas: biografias da comunidade

Projeto ajudou alunos de escolas públicas a produzirem a série "Retratos", com seis curtas-metragens



Três semanas para produzir, filmar e editar uma cinebiografia. Mas antes, era preciso entender o que é um documentário e os conceitos básicos da linguagem audiovisual. Desde o fim do ano passado, cerca de 80 estudantes de quatro escolas públicas participaram das oficinas do projeto "Pequenos Biógrafos, Grandes Biografias", que resultaram nos seis curtas-metragens da série "Retratos", sobre moradores das comunidades próximas às instituições de ensino. Em fase de edição, os vídeos serão exibidos em agosto, em mostra na Universidade de Fortaleza (Unifor).

O projeto é realizado pelo Instituto de Referência da Imagem e do Som (Iris), em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado/FEC e Pró-Reitora de Extensão da Unifor. As oficinas envolveram um total de 80 alunos de várias idades.
Participaram estudantes da Escola Visconde do Rio Branco, no Centro, com documentário ainda sem nome, abordando a história de uma adolescente grávida; Escola Renato Braga, na Aldeota, com o vídeo "O Andarilho", sobre um personagem curioso do bairro, que vive escondido sob um capacete de soldador. Na Varjota, os estudantes da Escola Bárbara de Alencar filmaram "O Pequeno", cinebiografia de um para-atleta que treinava no time Varjota Santos F.C., formado pelos estudantes e a ficção "Juliana", sobre uma jovem envolvida com drogas que passa por conflitos familiares. A Escola de Ensino Fundamental Dom Antônio Almeida Lustosa, no Dendê, filmou os documentários "A Conquista", sobre a velocista Lorayna Targino, de apenas 17 anos, e outro sobre um morador do bairro Édson Queiroz conhecido como "Radiadora", por circular o bairro cumprindo o papel de uma rádio comunitária.

"É importante que se entenda que este não é um curso técnico, é uma experiência de introdução de práticas audiovisuais. Para introduzir o audiovisual nas rotinas escolares como forma de criar ambientes criativos", aponta a coordenadora geral do projeto, Bete Jaguaribe, que é também professora do curso de Audiovisual e Novas Mídias da Unifor.

A escolha das biografias como foco dentro da produção audiovisual, detalha, foi a maneira encontrada para instigar a reflexão dos jovens sobre suas comunidades e a realidade que os cerca. "Eles definem o que querem debater, o que vão transformar em história. A partir do personagem, começam a desenvolver oficina de roteiro, de câmera. São experiências que acontecem dentro de escolas", destaca.

Quarta instituição a participar das oficinas, a Escola Dom Almeida Lustosa encerrou o ciclo do projeto gravando a cinebiografia sobre a jovem Lorayna Targino, na semana passada. Entre os feitos da velocista, estão medalhas de prata e ouro no Grande Prêmio Sul-Americano Juvenil de Atletismo 2010, participando ainda em 2011 da etapa Sul-Americana e do Mundial.

"Foi incrível trabalhar com alunos que nunca tinham mexido com uma câmera de vídeo ou, no máximo, haviam filmado com o celular. Eles tiveram uma evolução que pouca gente teria neste curto tempo", testemunha a monitora Dayse Barreto, recém-formada no curso de Audiovisual e Novas Mídias da Unifor, sobre o rendimento obtido pelos estudantes que participaram da iniciativa.

Experiência
Dayse orientou a produção do documentário sobre Lorayna desde o início, com oficina sobre os princípios básicos do audiovisual, pré-produção, gravações das cenas, encerradas no último sábado, dia 21, e acompanha a edição. "São apenas 12 encontros. Seis de teoria e pré-produção, três de gravações e três de finalização. É incrível como eles se envolveram com a proposta e conseguiram realizar o trabalho", diz.

O diretor do filme, David Faustino, tem apenas 14 anos. Envolvido com a música e com o teatro desde cedo, ele diz que trabalhar com o audiovisual foi uma experiência relativamente fácil. Dirigir um grupo, conta, é algo que já perdeu o medo de fazer. "Foi a primeira vez que trabalhei com audiovisual. Está sendo bem puxado, mas é gratificante ver que o pessoal está interessado", diz. E completa: "Não pretendo trabalhar com isso. Mas é mais uma experiência para minha vida. O dom da gente é como uma caixinha que vai expandindo, vai se desenvolvendo, até que começa a abranger todas essas áreas".

Mostra
O próximo passo do projeto é a apresentação das produções. Uma mostra deve ser organizada em agosto no curso de Audiovisual da Unifor. Bete Jaguaribe destaca a importância da parceria com a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade, que permite a aproximação entre as comunidades e a academia, tanto pela atuação de alunos e ex-alunos nas oficinas, como, em sentido inverso, na realização da mostras.

Os estudantes/autores dos vídeos devem participar da mostra compartilhando as experiências. "A ideia é, a partir desse projeto, estreitar esse diálogo da academia com as experiências sociais que trabalham o audiovisual", reforça Bete. 



Fonte: Jornal Diário do Nordeste (CE) 26/07/2012

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