HQ como recurso educativo
O blog Mídias na Educação deu uma dica muito interessante de entrevista com a educadora Sônia Luyten sobre quadrinhos como recurso de aprendizagem. A entrevista foi publicada no site da TV Escola/ Salto para o Futuro.
Pesquisadora com ênfase no uso de quadrinhos na sala de aula, Sônia Luyten, atualmente é professora titular do Programa de Pós-Graduação da Universidade Presidente Antonio Carlos (UNIPAC), em Juiz de Fora/MG e Presidente do Troféu HQMIX, entidade que faz a premiação dos melhores artistas e acadêmicos na área de Histórias em Quadrinhos e Humor Gráfico.
Salto – Em seu livro "Histórias em quadrinhos: leitura crítica" você ressalta a importância de valorizar os personagens e os desenhistas brasileiros. Atualmente, como você analisa a produção nacional de quadrinhos?
Sonia – A produção de quadrinhos brasileiros nunca esteve tão bem, tão rica, tão vasta e boa qualidade. No dia 31 de janeiro nós comemoramos o Dia do Quadrinho Nacional. Isso porque nós temos um "pai", isto é, o primeiro desenhista brasileiro, chamado Angelo Agostini, que no final do século XIX começa uma produção de quadrinhos no Brasil. O Brasil é pioneiro, muito antes dos americanos, nós já produzíamos, aqui no Rio de Janeiro, as imagens de uma história chamada "As aventuras do Nhô-Quim pela corte". Um ítalo-brasileiro se nacionalizou brasileiro, e começa então essa produção no Brasil. Nós temos uma produção vasta, de várias fases, acompanhando a produção mundial, acompanhando os acontecimentos mundiais. O quadrinho está intimamente ligado à história, ao entretenimento, à economia, etc. No Brasil, hoje, nós estamos com uma situação financeira também estável, e isso é muito importante também, pois com maior poder aquisitivo, mais pessoas estão lendo. Eu posso dizer que hoje em dia as pessoas estão tomando conhecimento da importância dos quadrinhos – as próprias editoras também. Hoje nós temos inúmeros títulos em que se fez a transposição de obras literárias, de romances, para quadrinhos. Grandes desenhistas brasileiros estão colocando esses livros na linguagem própria de quadrinhos. É muito difícil colocar em quadrinhos um escritor como Machado de Assis, o desenhista fica com medo de "matar" o autor. Mas a linguagem do quadrinho não pode ser redundante. É muito importante, hoje em dia, se ater a esta linguagem dos quadrinhos. Eles têm uma linguagem própria, não é literatura, não é cinema, nós estamos falando de Histórias em Quadrinhos.
Salto – Outro ponto discutido nesse livro diz respeito à influência dos quadrinhos sobre os meios de comunicação. Como é essa influência e de que forma ela pode ser percebida?
Sonia – Percebemos a presença dos quadrinhos desde os primórdios da humanidade. Se examinarmos as pinturas rupestres, por exemplo, aqui no Brasil, no Piauí, na Serra da Capivara, temos vários exemplos mostrando que de forma didática, na verdade sequencialmente, os seres humanos deixavam registros de como fazer as coisas – caçar, procriar, se alimentar, guerrear. Então, conforme a época, e conforme a evolução da civilização, nós temos esse exemplo da arte sequencial. As pessoas vão usando aquilo que o tempo lhes oferece. Nós temos vários exemplos na história da humanidade, na nossa história.
Salto – Você poderia dar outros exemplos?
Sonia – Por exemplo: no tempo do Império Romano, no Egito Antigo, depois na Idade Média... Tem um exemplo muito emblemático, que é uma tapeçaria de 70 metros, que foi encontrada na cidade de Bayeux, tudo em arte sequencial, narrando a guerra entre a Inglaterra e a França. Isso foi documentado em bordado, havia personagens, e toda forma da náutica, dos barcos, das armas, etc. Um documento precioso. Depois, mais tarde, nós podemos ver, na Idade Média, a xilogravura, a arte em fazer gravações em madeira, isso também foi imagem sequencial. Há quadrinhos em litogravura, que é a imagem na pedra. E depois, com a invenção dos meios de comunicação, nós vamos ver nos jornais, por exemplo, os quadrinhos aparecerem. Aparecem inicialmente com periodicidade semanal, depois diária, e depois pulam para as revistas, os gibis. Então, os próprios donos dos jornais, principalmente os americanos, quando viram que a seção de histórias em quadrinhos vendia o jornal, isso teve um peso muito grande na própria indústria jornalística. Aqui no Brasil também, nós tivemos praticamente uma guerra dos gibis, principalmente entre os editores do Rio de Janeiro e de São Paulo. Cásper Libero com o jornal "A Gazeta", depois veio Roberto Marinho, enfim, isso tudo para mostrar que o quadrinho tem uma importância na própria indústria jornalística. Hoje em dia, por exemplo, nós podemos falar da internet. Na internet há muitos sites, onde os desenhistas já não precisam se utilizar do papel para poder fazer as suas histórias. A internet hoje é o grande meio.
Leia a entrevista completa em: http://tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo/entrevista.asp?cod_Entrevista=118
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