De consumidores passivos a produtores do conhecimento


O Colégio Visconde de Porto Seguro está montando uma grande equipe de especialistas em Tecnologia da Educação, que deverá chegar ao número de 30 pessoas até o final deste ano e terá como finalidade fazer a inserção das chamadas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) no desenvolvimento de seu projeto pedagógico. “Estamos olhando a tecnologia como meio e não como fim, como instrumento de trabalho do aluno e do professor, colocando ambos como autores e produzindo conteúdo através desses recursos”, afirma Renata Pastore, diretora de Tecnologia da Educação da escola, especializada em Mídias Digitais para a área. Já o Centro Educacional Pioneiro implantou um Programa de Informática Educativa para atender aos seus alunos do horário integral, mas dispõe de especialistas que auxiliam professores e alunos no uso dessas tecnologias em suas atividades curriculares.

Os dois casos ilustram bem a expansão do uso de softwares, games e recursos interativos da web 2.0 como recursos de ensino-aprendizagem. Revelam ainda uma tendência e uma transição. Na transição, observa-se que as antigas aulas de informática, que tinham como foco apenas ensinar o aluno a usar a nova ferramenta, deram lugar a uma nova postura, de domínio e produção de conhecimento a partir da aplicação desses instrumentos. Já a tendência aponta para a incorporação crescente da tecnologia como componente indispensável ao desenvolvimento do projeto pedagógico.

No Colégio Porto Seguro, que possui unidades nos bairros do Morumbi e Panamby, zona Sul de São Paulo, e no município de Valinhos, 1.200 máquinas estão hoje voltadas ao uso exclusivo pelo setor pedagógico, “100% delas com cobertura Wi-Fi”, diz Renata.

Até o final deste ano, cada sala de aula da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental estará equipada com lousas digitais, mas todas as salas do colégio já dispõem de computadores. A equipe que está sendo montada pretende, justamente, dar suporte aos professores. Com 10.500 alunos nas três unidades, o Porto Seguro tem hoje cerca de 800 docentes. Parte da capacitação será realizada por meio de um convênio com a Microsoft, de formação de professores inovadores, mas há também educadores que já estão recebendo MacBook Pro, uma plataforma concorrente, para trabalhar com os alunos. Segundo a professora da equipe, Bianca Santana, pesquisadora, mestranda e especialista na área, a intenção é oferecer “diversidade” aos alunos e educadores, o que inclui até oficinas de desenvolvimento de novos hardwares a partir do reaproveitamento de materiais obsoletos.

Nesse sentido, as diferentes plataformas, softwares (livres ou não), jogos e redes vinculadas à web 2.0 acabam compondo um rico mosaico de possibilidades de exploração e reconstrução do conhecimento. Segundo Débora Sebriam, coordenadora de Tecnologia Educativa do Centro Educacional Pioneiro, escola localizada na Vila Mariana, zona Sul de São Paulo, há forte tendência para um uso cada vez maior das redes sociais, como Twitter, You Tube e Facebook. Mestre em Engenharia de Mídias para a Educação, Débora revela, por exemplo, que neste semestre programou com os alunos o desenvolvimento de atividades com o Twitter e produção de animações para publicação no You Tube.

Os softwares, para sobreviver neste contexto, terão que se integrar às redes sociais, pois a grande vantagem destas, segundo pontua Débora, “é a possibilidade de abrir e compartilhar conhecimento, gerar debates, críticas e colaborações, inspirar outras iniciativas”. O Twitter, com sua limitação de 140 caracteres, auxilia no desenvolvimento de textos claros e objetivos. O Facebook, por sua vez, amplia a possibilidade de debate em um grupo, permite inserir notas e comentários. “Ele possui recursos para se transformar em uma plataforma educativa”, observa Débora, destacando que algumas instituições de ensino superior já o utilizam com essa finalidade.

Na abordagem com os professores, o especialista procura orientar sobre qual dessas ferramentas melhor se adapta às ideias ou projetos. “Pode ser a web 2.0 (com blogs, redes sociais e recursos como o Google Earth ou Google Art Project), games ou softwares de autoria, como o Visual Class ou o Hot Potatoes, que fornecem possibilidades de se montar um roteiro inteiro de associações, palavras cruzadas, jogo da memória.” Ambos os softwares são indicados, por exemplo, para os processos de alfabetização, enquanto as redes sociais podem ser trabalhadas a partir do 5º ano. O 2º ano do Ensino Médio do Pioneiro utilizou a ferramenta Google Sketchup em suas aulas de Desenho Geométrico, quando foram tratados elementos como Prisma, Pirâmide, Cilindro e Cone (confira no linkhttp://piomedio. blogspot.com/2011/06/2oem--usando-google-sketchup-nas-aulas. html). Os estudantes do 9º ano, por sua vez, conquistaram o 3º lugar em um concurso de produção de vídeos digitais, o KWN (Kid Witness News), promovido pela Panasonic, abordando o tema da comunicação e explorando os perigos ocultos e inerentes às redes sociais (confira emhttp://pioneironews.blogspot.com/2011/04/concurso--panasonic-kwn-2011-somos-3.html). 

RECURSOS LIVRES
Uma das possibilidades das escolas é optar por programas de uso livre, os quais se inserem na concepção dos chamados Recursos Educacionais Abertos. A educadora Bianca Santana, participante do Projeto REA-Br, afirma que este conceito atinge a qualquer material que o professor venha a utilizar em seu trabalho, de livros impressos a softwares. Segundo ela, os produtos têm um autor, que deve ser reconhecido e remunerado, mas a ideia é poder produzir algo novo em cima deste trabalho, dando ao professor a possibilidade de adaptá-lo a uma realidade ou região.

“O professor sai então do papel passivo de consumidor para uma posição ativa de autor e pode convidar o próprio aluno a também se tornar um autor”, complementa. Mas Bianca defende que as escolas possibilitem o acesso dos estudantes a todos os tipos de softwares, mesmo os licenciados, “para mostrar aos alunos a diversidade dos sistemas operacionais, permitindo a eles ser fluentes em diferentes linguagens e plataformas móveis”. Bianca arremata que “autonomia” e “diversidade” são duas palavras-chaves em tecnologia educativa. “O papel da escola é convidar o aluno para ser sujeito da produção”, arremata a pesquisadora.
Fonte: Direcional Escolas - Edição 70 de Agosto de 2011/ Por Rosali Figueiredo

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