Das grades às redes curriculares, de formação de professores, de instituições, de ...
Compartilhamos abaixo, trechinho de artigo do professor Nelson Pretto, da UFBA, para a 4a. CNCTI Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação/ Tema Ensino de Ciências.
Se gostar, leia o texto completo clicando aqui:
Nelson De Luca Pretto professor associado da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. Doutor em Comunicação (USP, 1994). Mestre em Educação. Licenciado em Física. Membro. Titular do Conselho de Cultura do estado da Bahia (20072010) | www.pretto.info | nelson@pretto.info |
Resumo
O texto apresenta um conjunto de reflexões em torno da necessidade de pensarmos o ensino das ciências numa perspectiva muito mais ampla do que estamos fazendo atualmente. A expectativa com este texto é a de poder contribuir para que a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4ª CNCTI) possa, a partir de ampla discussão política, delinear algumas diretrizes no campo da formação, da divulgação científica e do ensino das ciências, não se limitando, obviamente à estes. Parte de uma reflexão sobre a importância nas Conferências Nacionais, adentrando no específico das políticas públicas, fazendo uma crítica à forma como as mesmas vêm sendo elaboradas, de forma isolada, com cada Ministério apresentando suas próprias políticas, sem a perspectiva de implantação de uma rede de ações, que defendemos ao longo do texto.
Introdução
Certa feita, numa sessão de depoimento no Teatro da PUC no Fórum Social Mundial, no início do ano 2001, o escrito uruguaio Eduardo Galeano começou o seu depoimento relembrando uma pichação que encontrou em uma das suas muitas viagens pelos países latino americanos: "quando encontramos a resposta, mudaram a pergunta"!
Talvez seja esta a situação que nos encontramos quando falamos em políticas públicas para Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), com particular foco no ensino das ciências. Pensar nas políticas públicas para a CT&I implica, de imediato, pensar em políticas públicas para a Educação, Cultura, Telecomunicações, entre tantas outras áreas.
Continuamos, como desde muito, a ver propostas que não se articulam, como se cada Ministério fosse responsável pela solução dos problemas de forma isolada. Urge pensarmos o Brasil de forma mais global, coerente com o mundo contemporâneo. Na economia isso já acontece pois é praticamente impossível, nesta especulação financeira em que vivemos, pensar e agir de forma isolada, sob pena de um retumbante fracasso das políticas, que devem ser repensadas para ampliar o espectro de possibilidades e, com isso, não cair nas armadilhas das soluções simplificadas para complexos problemas. Temos dito, até com certa insistência, que o maior problema das políticas públicas federais (e vale ipsis litteris para as estaduais) é que se continuarmos a fazer composição dos governos atendendo aos partidos políticos que loteiam os cargos, cada ministério (e secretaria) continuará fazendo a sua política específica, querendo "realizar" mais do que as demais e dificilmente conseguiremos políticas públicas que deem conta dos desafios contemporâneos em muitas áreas. Complementarmente ainda vemos superposição de atuação dos organismos, em nível federal o que provoca uma redundância de trabalho e gastos desnecessários.
O que pretendemos aqui, é fazer um exercício em torno de alguns pontos na expectativa de poder contribuir para que a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4ª CNCTI) possa, a partir de ampla discussão política, delinear algumas diretrizes no campo da formação, da divulgação científica e do ensino das ciências, não se limitando obviamente a estes.
De forma categórica, o que precisamos é de pistas para a implementação de políticas públicas integradas e integradoras para a área da CT&I, sem, no entanto, ficar prisioneiros à própria área. Isso porque, o desenvolvimento científico e tecnológico experimentado pela humanidade na segunda metade de século XX provocou mudanças profundas em todas as áreas do conhecimento.
Estruturas de modelos não lineares, complexidade, caos, indeterminação, são os novos elementos que passam a fazer parte do nosso cotidiano. Manuel Delanda (1992) considera que os 30 últimos anos do século XX corresponderam exatamente a um grande salto de paradigmas, mostrando-nos como os sistemas conservativos passam a ser substituídos por sistemas de equilíbrio dinâmico, nos levando a refletir sobre mudanças de concepções em todas as áreas do conhecimento. A análise de reações químicas é idêntica a muitos outros processos em que o equilibro do sistema começa repentinamente a oscilar. Para ele, “oscilações não lineares tem sido observadas em campos tão diversos como a eletrônica, a economia e as relações ecológicas (tal como na relação presa - predador)” (1992, p. 135).
Esta ideia de complexidade dos sistemas demanda pensarmos também as políticas públicas com este outro olhar. Marcello Cini, físico da Universidade de Roma/Itália, reflete sobre o como mudamos a forma de conceber o mundo e, em vez se tentar reduzir tudo à ordem, regularidade e continuidade, emergem categorias e perspectivas completamente opostas. Estudam-se a desordem, a irregularidade, os fenômenos que não se repetem, em vez de tentar unificar fenômenos muito diferentes pela explicação resultante de uma única lei fundamental. A individualidade começa a ser reconhecida, por exemplo, no fato de que sistemas estruturalmente idênticos podem revelar comportamentos radicalmente diferentes, ocasionados apenas por pequeníssimas diferenças que, até então, todos consideravam como sendo não essenciais.(CINI, 1998,p.111).
Estão em mudança as formas como percebemos e analisamos o mundo, com as individualidades sendo cada vez mais reforçadas e, com isso, mesclando intensamente as concepções teóricas que analisam o mundo físico com aquelas usadas para a análise do chamado mundo social. Os sistemas computacionais digitais desenvolvidos nestes últimos anos têm sido responsáveis por muitas destas mudanças paradigmáticas. Mais uma vez, como afirma Manuel Delanda, muitos destes fenômenos permaneciam invisíveis antes do advento do computador (1992, p. 136). Para Marcelo Cini, estamos atualmente trabalhando com “todos os fatores que a ciência tentou exorcizar, minimizar, deixar fora de suas fronteiras” (1998: 111).
Nesse sentido, acreditamos que falta ao Governo Federal, em todos os âmbitos, uma maior articulação de suas ações. No que diz respeito à CT&I, Educação e Cultura, pensamos ser isso algo prioritário, acompanhado de uma profunda avaliação dos resultados dessas ações, com a busca de uma atuação mais integrada de todos os ministérios, com destaque para aqueles mais ligado à especificidade de nosso tema, como a Educação, Ciência e Tecnologia, Cultura e Comunicações, mas não limitando-se a esses.
Partindo do pressuposto que uma Conferência Nacional deve levantar pautas concretas afim de serem debatidas exaustivamente, gostaríamos de destacar neste texto algumas frentes que consideramos básicas e fundamentais para pensarmos Ciência, Tecnologia e Inovação para um desenvolvimento social sustentável. (...)
Leia o artigo completo e veja a referência bibliográfica em: https://blog.ufba.br/nlpretto/files/2010/04/pretto_4cncti_v0_6revisado_enviadov0_3_21052010.pdf
Se gostar, leia o texto completo clicando aqui:
Nelson De Luca Pretto professor associado da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. Doutor em Comunicação (USP, 1994). Mestre em Educação. Licenciado em Física. Membro. Titular do Conselho de Cultura do estado da Bahia (20072010) | www.pretto.info | nelson@pretto.info |
Resumo
O texto apresenta um conjunto de reflexões em torno da necessidade de pensarmos o ensino das ciências numa perspectiva muito mais ampla do que estamos fazendo atualmente. A expectativa com este texto é a de poder contribuir para que a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4ª CNCTI) possa, a partir de ampla discussão política, delinear algumas diretrizes no campo da formação, da divulgação científica e do ensino das ciências, não se limitando, obviamente à estes. Parte de uma reflexão sobre a importância nas Conferências Nacionais, adentrando no específico das políticas públicas, fazendo uma crítica à forma como as mesmas vêm sendo elaboradas, de forma isolada, com cada Ministério apresentando suas próprias políticas, sem a perspectiva de implantação de uma rede de ações, que defendemos ao longo do texto.
Introdução
Certa feita, numa sessão de depoimento no Teatro da PUC no Fórum Social Mundial, no início do ano 2001, o escrito uruguaio Eduardo Galeano começou o seu depoimento relembrando uma pichação que encontrou em uma das suas muitas viagens pelos países latino americanos: "quando encontramos a resposta, mudaram a pergunta"!
Talvez seja esta a situação que nos encontramos quando falamos em políticas públicas para Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), com particular foco no ensino das ciências. Pensar nas políticas públicas para a CT&I implica, de imediato, pensar em políticas públicas para a Educação, Cultura, Telecomunicações, entre tantas outras áreas.
Continuamos, como desde muito, a ver propostas que não se articulam, como se cada Ministério fosse responsável pela solução dos problemas de forma isolada. Urge pensarmos o Brasil de forma mais global, coerente com o mundo contemporâneo. Na economia isso já acontece pois é praticamente impossível, nesta especulação financeira em que vivemos, pensar e agir de forma isolada, sob pena de um retumbante fracasso das políticas, que devem ser repensadas para ampliar o espectro de possibilidades e, com isso, não cair nas armadilhas das soluções simplificadas para complexos problemas. Temos dito, até com certa insistência, que o maior problema das políticas públicas federais (e vale ipsis litteris para as estaduais) é que se continuarmos a fazer composição dos governos atendendo aos partidos políticos que loteiam os cargos, cada ministério (e secretaria) continuará fazendo a sua política específica, querendo "realizar" mais do que as demais e dificilmente conseguiremos políticas públicas que deem conta dos desafios contemporâneos em muitas áreas. Complementarmente ainda vemos superposição de atuação dos organismos, em nível federal o que provoca uma redundância de trabalho e gastos desnecessários.
O que pretendemos aqui, é fazer um exercício em torno de alguns pontos na expectativa de poder contribuir para que a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4ª CNCTI) possa, a partir de ampla discussão política, delinear algumas diretrizes no campo da formação, da divulgação científica e do ensino das ciências, não se limitando obviamente a estes.
De forma categórica, o que precisamos é de pistas para a implementação de políticas públicas integradas e integradoras para a área da CT&I, sem, no entanto, ficar prisioneiros à própria área. Isso porque, o desenvolvimento científico e tecnológico experimentado pela humanidade na segunda metade de século XX provocou mudanças profundas em todas as áreas do conhecimento.
Estruturas de modelos não lineares, complexidade, caos, indeterminação, são os novos elementos que passam a fazer parte do nosso cotidiano. Manuel Delanda (1992) considera que os 30 últimos anos do século XX corresponderam exatamente a um grande salto de paradigmas, mostrando-nos como os sistemas conservativos passam a ser substituídos por sistemas de equilíbrio dinâmico, nos levando a refletir sobre mudanças de concepções em todas as áreas do conhecimento. A análise de reações químicas é idêntica a muitos outros processos em que o equilibro do sistema começa repentinamente a oscilar. Para ele, “oscilações não lineares tem sido observadas em campos tão diversos como a eletrônica, a economia e as relações ecológicas (tal como na relação presa - predador)” (1992, p. 135).
Esta ideia de complexidade dos sistemas demanda pensarmos também as políticas públicas com este outro olhar. Marcello Cini, físico da Universidade de Roma/Itália, reflete sobre o como mudamos a forma de conceber o mundo e, em vez se tentar reduzir tudo à ordem, regularidade e continuidade, emergem categorias e perspectivas completamente opostas. Estudam-se a desordem, a irregularidade, os fenômenos que não se repetem, em vez de tentar unificar fenômenos muito diferentes pela explicação resultante de uma única lei fundamental. A individualidade começa a ser reconhecida, por exemplo, no fato de que sistemas estruturalmente idênticos podem revelar comportamentos radicalmente diferentes, ocasionados apenas por pequeníssimas diferenças que, até então, todos consideravam como sendo não essenciais.(CINI, 1998,p.111).
Estão em mudança as formas como percebemos e analisamos o mundo, com as individualidades sendo cada vez mais reforçadas e, com isso, mesclando intensamente as concepções teóricas que analisam o mundo físico com aquelas usadas para a análise do chamado mundo social. Os sistemas computacionais digitais desenvolvidos nestes últimos anos têm sido responsáveis por muitas destas mudanças paradigmáticas. Mais uma vez, como afirma Manuel Delanda, muitos destes fenômenos permaneciam invisíveis antes do advento do computador (1992, p. 136). Para Marcelo Cini, estamos atualmente trabalhando com “todos os fatores que a ciência tentou exorcizar, minimizar, deixar fora de suas fronteiras” (1998: 111).
Nesse sentido, acreditamos que falta ao Governo Federal, em todos os âmbitos, uma maior articulação de suas ações. No que diz respeito à CT&I, Educação e Cultura, pensamos ser isso algo prioritário, acompanhado de uma profunda avaliação dos resultados dessas ações, com a busca de uma atuação mais integrada de todos os ministérios, com destaque para aqueles mais ligado à especificidade de nosso tema, como a Educação, Ciência e Tecnologia, Cultura e Comunicações, mas não limitando-se a esses.
Partindo do pressuposto que uma Conferência Nacional deve levantar pautas concretas afim de serem debatidas exaustivamente, gostaríamos de destacar neste texto algumas frentes que consideramos básicas e fundamentais para pensarmos Ciência, Tecnologia e Inovação para um desenvolvimento social sustentável. (...)
Leia o artigo completo e veja a referência bibliográfica em: https://blog.ufba.br/nlpretto/files/2010/04/pretto_4cncti_v0_6revisado_enviadov0_3_21052010.pdf
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