"Há que ensinar os jovens a entender e a participar na cultura dos media"
A dica foi do querido professor Manuel Pinto! Reproduzimos abaixo entrevista publicada no Briefing com David Buckingham (foto), um dos nomes mais importantes da área de mídia-educação na atualidade. Boa leitura e boas reflexões!
Especialista em media education, professor do Institute of Education da Universidade de Londres e director do Centre for the Study of Children, Youth and Media (CSCYM), David Buckingham há muito que investiga não só as interacções que as crianças e os jovens desenvolvem com os meios electrónicos, como a evolução da chamada “literacia mediática” nestas faixas etárias. Autor, co-autor e editor de 25 livros, o especialista em educação para os media vai estar em Portugal, no Porto, entre os oradores do 6º Seminário de Marketing Infantil*.
. Porque é que a educação para os media é tão importante junto das gerações mais jovens?
Os jovens passam, hoje em dia, mais tempo com os media do que passam na escola. Os media são o centro da cultura moderna e do processo político: são os meios através dos quais descobrimos o mundo. Se acreditarmos que a escola deve ser relevante na vida dos jovens, então não existe alternativa: há que ensinar estes jovens a entender e a participar na cultura dos media.
. E como é que isso se ensina? Que papel devem ter as escolas e as famílias?
A educação para os media não é só para os jovens, mas para os adultos também. Ela deve acontecer nas escolas, e logo a partir de uma idade jovem, mas também em casa, que é onde as crianças mais utilizam os media. Com a emergência de novas tecnologias de media, os mais jovens têm muitas vezes mais apetência para elas do que os adultos – contudo, existe um factor que tanto os adultos como as crianças não conhecem, como por exemplo a verdadeira função das indústrias de media. Tudo isto significa que a educação para os media deve envolver o diálogo entre gerações.
. As crianças tornaram-se um mercado extremamente importante. Na sua opinião, diria que as sociedades, em geral, estão a preparar bem as crianças, no sentido de se tornarem consumidores responsáveis?
Acredito que as pessoas são muito mais competentes na sua relação com os media e com a cultura de consumo do que aquilo que assumem – as pessoas não são vítimas passivas. Ainda assim, a cultura de consumo está a mudar, e os marketers estão a utilizar novas tácticas, e mais subtis, para chegar aos consumidores mais novos. Em particular, no que diz respeito aos media digitais, considero que existe a necessidade de uma maior regulação do sector, bem como de um maior conhecimento sobre como funciona o marketing.
Diria que as empresas e marcas devem ser mais responsáveis na forma como comunicam com os mais jovens? A maioria dos países já bons mecanismo de regulação para os “velhos” media, como a televisão, embora exista muitas vezes a necessidade de mais informação publica sobre este facto. A maioria das empresas não querem ser vistas como irresponsáveis: não é bom para o negócio. Contudo, existem novas formas de marketing digital que precisam de ser reguladas: existe o risco de os consumidores serem enganados e de verem a sua privacidade invadida – e isto aplica-se tanto a adultos como a crianças.
O David está prestes a lançar um novo livro: “The Material Child: Growing Up in Consumer Culture”. Pode falar-nos um pouco desta nova obra?
O livro desafia algumas das mais afirmações mais melodramáticas que são feitas sobre as crianças enquanto consumidores, e tenta oferecer uma abordagem mais equilibrada. Mostra como o consumo de bens e serviços se tornou numa parte intrínseca do dia-a-dia social das crianças e das suas relações com os seus pare e com os seus pais. O mercado de consumo é uma realidade da vida – a questão está em como podemos preparar as crianças para lidar com essa realidade, e em como prepará-las para se tornarem consumidores autónomos e críticos. Contudo, preocupo-me mais com a privatização de serviços públicos (por exemplo, das estações públicas, da educação e de espaços de lazer para as crianças), que em muitos aspectos exerce uma influencia mais negativa do que a publicidade.
* 7 de Abril é a data marcada para a sexta edição do Seminário de Marketing Infantil, que resulta de uma parceria entre a BrandKey e o IPAM do Porto (também proprietário do IADE de Lisboa), a ter lugar na Casa da Música.
Fonte: Briefing
Especialista em media education, professor do Institute of Education da Universidade de Londres e director do Centre for the Study of Children, Youth and Media (CSCYM), David Buckingham há muito que investiga não só as interacções que as crianças e os jovens desenvolvem com os meios electrónicos, como a evolução da chamada “literacia mediática” nestas faixas etárias. Autor, co-autor e editor de 25 livros, o especialista em educação para os media vai estar em Portugal, no Porto, entre os oradores do 6º Seminário de Marketing Infantil*.
. Porque é que a educação para os media é tão importante junto das gerações mais jovens?
Os jovens passam, hoje em dia, mais tempo com os media do que passam na escola. Os media são o centro da cultura moderna e do processo político: são os meios através dos quais descobrimos o mundo. Se acreditarmos que a escola deve ser relevante na vida dos jovens, então não existe alternativa: há que ensinar estes jovens a entender e a participar na cultura dos media.
. E como é que isso se ensina? Que papel devem ter as escolas e as famílias?
A educação para os media não é só para os jovens, mas para os adultos também. Ela deve acontecer nas escolas, e logo a partir de uma idade jovem, mas também em casa, que é onde as crianças mais utilizam os media. Com a emergência de novas tecnologias de media, os mais jovens têm muitas vezes mais apetência para elas do que os adultos – contudo, existe um factor que tanto os adultos como as crianças não conhecem, como por exemplo a verdadeira função das indústrias de media. Tudo isto significa que a educação para os media deve envolver o diálogo entre gerações.
. As crianças tornaram-se um mercado extremamente importante. Na sua opinião, diria que as sociedades, em geral, estão a preparar bem as crianças, no sentido de se tornarem consumidores responsáveis?
Acredito que as pessoas são muito mais competentes na sua relação com os media e com a cultura de consumo do que aquilo que assumem – as pessoas não são vítimas passivas. Ainda assim, a cultura de consumo está a mudar, e os marketers estão a utilizar novas tácticas, e mais subtis, para chegar aos consumidores mais novos. Em particular, no que diz respeito aos media digitais, considero que existe a necessidade de uma maior regulação do sector, bem como de um maior conhecimento sobre como funciona o marketing.
Diria que as empresas e marcas devem ser mais responsáveis na forma como comunicam com os mais jovens? A maioria dos países já bons mecanismo de regulação para os “velhos” media, como a televisão, embora exista muitas vezes a necessidade de mais informação publica sobre este facto. A maioria das empresas não querem ser vistas como irresponsáveis: não é bom para o negócio. Contudo, existem novas formas de marketing digital que precisam de ser reguladas: existe o risco de os consumidores serem enganados e de verem a sua privacidade invadida – e isto aplica-se tanto a adultos como a crianças.
O David está prestes a lançar um novo livro: “The Material Child: Growing Up in Consumer Culture”. Pode falar-nos um pouco desta nova obra?
O livro desafia algumas das mais afirmações mais melodramáticas que são feitas sobre as crianças enquanto consumidores, e tenta oferecer uma abordagem mais equilibrada. Mostra como o consumo de bens e serviços se tornou numa parte intrínseca do dia-a-dia social das crianças e das suas relações com os seus pare e com os seus pais. O mercado de consumo é uma realidade da vida – a questão está em como podemos preparar as crianças para lidar com essa realidade, e em como prepará-las para se tornarem consumidores autónomos e críticos. Contudo, preocupo-me mais com a privatização de serviços públicos (por exemplo, das estações públicas, da educação e de espaços de lazer para as crianças), que em muitos aspectos exerce uma influencia mais negativa do que a publicidade.
* 7 de Abril é a data marcada para a sexta edição do Seminário de Marketing Infantil, que resulta de uma parceria entre a BrandKey e o IPAM do Porto (também proprietário do IADE de Lisboa), a ter lugar na Casa da Música.
Fonte: Briefing
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