Rivais reclamam que Google privilegia seus próprios sites

Reproduzimos abaixo matéria do Wall Street Journal Americas publicada no jornal Valor Econômico, em 14/12/2010

O Google Inc. tem promovido cada vez mais alguns de seus próprios conteúdos em detrimento do de websites rivais quando os usuários fazem uma busca on-line, o que começa a atrair críticas de sites concorrentes.

A gigante da internet tem, mais e mais, exibido links para seus próprios serviços - como informações sobre empresas locais ou do serviço Google Health - acima de outros conteúdos que não os seus nos resultados de busca.

O Google, que está desenvolvendo mais sites de conteúdo ou de busca especializada para tentar aumentar o faturamento publicitário, afirma que exibir com mais destaque os links para eles é mais útil para o usuário que apenas exibir links para sites que estão no topo do ranking de seu sistema de buscas. Mas as mudanças também põem o Google em rota de colisão com sites que dependem da ferramenta de buscas para receber visitantes.

Essas empresas alegam que seus links estão descendo cada vez mais na página de resultados, para abrir espaço aos sites promovidos pelo Google. Entre os críticos estão executivos do site de viagem TripAdvisor.com, do site de saúde WebMD.com e sites que oferecem avaliações de usuários a serviços locais, como Yelp.com e Citysearch.com, entre outros.

"Não há como negar que hoje em dia o Google está concorrendo [com muitos sites] pelo mesmo tráfego da web e os mesmos dólares de propaganda", diz Jay Herratti, diretor-presidente da CityGrid Media, divisão da IAC/InterActiveCorp. que é dona do Citysearch e dos sites irmãos Urbanspoon.com e InsiderPages.com.

Herratti diz acreditar que as mudanças do Google estão prejudicando o crescimento de seus sites, embora acrescente que é difícil medir o impacto.

O diretor-presidente do site TripAdvisor, Stephen Kaufer, diz que o número de visitantes direcionados ao seu site pela página de busca do Google caiu mais de 10%, já eliminando fatores sazonais, em relação a meados de outubro - pouco antes de o Google anunciar a mais recente mudança na maneira como seu site de busca exibe informações sobre empresas locais. O TripAdvisor.com, cuja principal fonte de tráfego é o Google, oferece resenhas sobre hotéis e outras empresas frequentadas por viajantes.

"O Google parece estar disputando com a gente e não gosto disso nem um pouco", diz Kaufer, acrescentando que negocia há dois meses com o Google para tentar melhorar sua situação.

"Criamos o Google para os usuários, não para os sites, e nossa meta é dar respostas aos usuários", disse uma porta-voz da empresa num comunicado. "Às vezes a resposta mais útil não é 'dez links azulados', mas um mapa para uma busca de endereço, ou várias imagens para uma busca sobre 'fotos das pirâmides egípcias'. Normalmente oferecemos esses resultados na forma de 'respostas rápidas' no topo da página, porque nossos usuários querem uma resposta rápida."

Ela não quis comentar quaisquer críticas específicas ou quaisquer discussões com outros sites.

As queixas ressaltam a importância das buscas do Google para praticamente qualquer negócio na internet, e atenção crescente à maneira como a empresa opera. Em novembro, a maior autoridade antitruste da União Europeia anunciou uma investigação para determinar se o Google manipula seus resultados de busca para prejudicar sites concorrentes ou dá destaque para os próprios serviços.

A UE recebeu uma queixa de um site de busca de compras, que alegou que ele e outros sites parecidos perderam visitantes depois que o Google começou a promover seu próprio serviço de busca de produtos acima dos resultados convencionais de busca.

O Google informou que jamais prejudicou intencionalmente serviços concorrentes. A empresa afirmou também que as queixas na UE foram feitas por empresas ligadas à concorrente Microsoft Corp.

As recentes queixas de concorrentes da internet não se concentram no sistema de algoritmos de busca do Google - que exibe os links supostamente mais relevantes para uma palavra-chave -, mas na maneira como o site exibe os links para seus próprios serviços. A empresa insiste que está apenas ajudando as pessoas.

O problema não é inteiramente novo. Durante vários anos, o Google exibiu com destaque links para serviços como Google Finance e Google Maps, para aumentar a popularidade dos serviços, com resultados variados.

Mas as últimas mudanças do Google parecem estar motivando mais queixas dos concorrentes. Nos últimos 12 meses, o Google encaminhou as pessoas para um novo catálogo de empresas chamado Google Places, quando elas buscam coisas como "spa em Nova York". Essas buscas geralmente exibem resultados com endereços de empresas específicas, mas também grandes alfinetes vermelhos em cada um dos resultados. Quando clicados, os marcadores encaminham as pessoas para uma página do Google Places que também exibe anúncios e detalhes sobre o lugar.

Links para alguns sites de opiniões sobre empresas locais caíram na listagem dos resultados de pesquisa. Os links para páginas do Google Places ganharam mais destaque nos últimos meses e o Google lançou também novas iniciativas de propaganda relacionadas a essas mudanças

Ano passado, o Google começou a exibir links para páginas do Google Health quando as pessoas buscavam informações sobre doenças como "câncer", "acne" e "enfisema". As páginas do Google Health organizam dados como causas, sintomas, ilustrações e informações recentes sobre certas enfermidades. Links para essas páginas são exibidos acima dos resultados normais de busca.

"É o contrário da noção de uma busca natural", diz Adam Grossberg, vice-presidente sênior de comunicação da WebMD Health Corp., acrescentando que a empresa não tem detectado repercussões negativas da mudança, mas a está acompanhando atentamente.

O Google planeja usar métodos parecidos para direcionar visitantes de seu site de busca a dois novos serviços lançados mês passado, dizem representantes da empresa. O primeiro, chamado Hotpot, permite que as pessoas deem nota para empresas, museus e locais públicos e compartilhem essas avaliações com os amigos, de modo parecido com o Yelp e outros sites do tipo. O outro serviço do Google, a loja de roupas de grife Boutiques.com, espera se tornar a primeira parada das pessoas que usam a internet para comprar roupas e acessórios.

O Google promover seu próprio conteúdo em detrimento dos outros é uma das muitas questões que surgiram na investigação antitruste sobre a aquisição da ITA Software Inc., disseram pessoas envolvidas nas discussões. A ITA ajuda sites como Kayak.com a buscar preços de passagens de avião e o Google afirmou que pretende usar a tecnologia dela para desenvolver seu próprio site de buscas de viagens. Analistas esperam que o Google exiba links para o novo site no topo dos resultados de busca sobre viagens.

Os executivos do Google já disseram que o governo vai concluir que o segmento de agências de viagem na internet continuará competitivo depois que a aquisição for concretizada, e que o acordo não deveria ser motivo de preocupações antitruste porque o Google não concorre com a ITA.

Praticamente todo o faturamento do Google vem de anúncios exibidos ao lado de resultados de busca. Mas o crescimento desse negócio ficou mais lento, levando a empresa a oferecer também "sites de destino" que entram mais fundo em categorias como comparação de preços.

O Bing, o site de buscas da Microsoft Corp., também encaminha as pessoas, em alguns casos, para páginas próprias com listas de empresas locais, de finanças ou serviços de busca de preço de passagem aérea. Mas a influência do Bing é muito menor - ele recebe menos de 30% das buscas nos EUA, incluindo as dos sites do Yahoo, ante os 66% do Google, segundo números da comScore para outubro.

Pelo menos um site, o MayoClinic.com, que publica informações de saúde, afirmou que as mudanças no Google aumentaram ligeiramente o tráfego. Brian Laing, executivo do MayoClinic.com, atribui isso ao fato de que o Google exibe um link para o MayoClinic.com ao lado de um link do Google Health sobre certas doenças, mesmo que os links do MayoClinic.com não sejam exibidos na primeira página dos resultados normais - determinados pelo algoritmo especial de relevância.

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