Sofisticada compilação de estudos avalia o impacto das políticas educacionais no aprendizado



Alunos matriculados nas melhores escolas públicas aprendem durante um ano letivo duas vezes mais do que aprenderiam caso estivessem matriculados nas piores escolas. Além disso, a qualidade das escolas está relacionada diretamente com a qualidade dos professores. Essas são algumas das constatações obtidas com o projeto “Caminhos para melhorar o aprendizado”, lançado na última quinta-feira, 28 de abril, pelo Instituto Ayrton Senna e o movimento Todos Pela Educação.


Resultado de um extenso trabalho coordenado pelo pesquisador e economista Ricardo Paes de Barros, o projeto reúne no site www.paramelhoraroaprendizado.org.br um compilado com as principais conclusões levantadas a partir de 165 estudos (140 internacionais e 25 nacionais) sobre os impactos das políticas educacionais no aprendizado dos alunos. As informações são apresentadas em 25 verbetes sobre políticas educacionais e estão organizadas em cinco grandes áreas: recursos da escola; plano e práticas pedagógicas; gestão da escola; gestão da rede de ensino; e condições das famílias. Cada um desses verbetes é composto por um resumo, que reúne as conclusões das pesquisas, suas limitações e possibilidades de ação. Também há notas técnicas detalhadas sobre a confiabilidade dos estudos, a possibilidade de generalização para outros contextos e a bibliografia utilizada.



“O objetivo deste estudo é dar ao gestor e a todos que se interessem pelo desenho das políticas públicas voltadas à promoção do aprendizado um acesso fácil e rápido ao vasto conteúdo contido no conjunto de estudos analisados”, explicou Paes de Barros, que é também membro da Comissão Técnica do Todos Pela Educação e da Academia Brasileira de Ciências.
A presidente do Instituto Ayrton, Viviane Senna, destacou o ineditismo da pesquisa, chamada carinhosamente por ela de “bebezão” que foi longamente gestado, e disse que a grande inovação está no fato do estudo isolar e mensurar o impacto de cada elemento. “Para melhorar a qualidade da educação, é preciso melhorar a demanda por educação. E é nesse sentido que o projeto visa contribuir.”


Segundo Paes de Barros, o projeto priorizou a análise dos fatores ligados à escola e ao professor, não abrangendo os determinantes que estão fora do universo escolar e que dependem da família ou da comunidade. Desse modo, foram considerados diversos fatores que podem influenciar no processo de aprendizagem, como a habilidade cognitiva dos alunos e a garantia das condições básicas para a frequência escolar e o sucesso dos alunos.



O que mostram os estudos
Um dos pontos fortemente evidenciados no projeto é a influência que a qualidade do professor tem sobre o desempenho educacional dos alunos. De acordo com os estudos,
um aluno alocado a um professor que está entre os 20% melhores pode aprender, durante um ano letivo, 68% a mais do que se fosse alocado a um professor entre os 20% piores.

A experiência do professor na profissão também é apontada como um fator que influencia no processo de aprendizagem. Nesse caso, todos os estudos indicam que, em um ano letivo, o aprendizado de alunos de professores com ao menos 2 anos de experiência tende a ser 30% maior que se esses mesmos alunos tivessem sido alocados, na mesma escola, a professores sem nenhuma experiência. As evidências mostram, ainda, que muitas ações e fatores comumente considerados de grande influência no aprendizado dos alunos não são tão eficazes quanto se pensa. Um exemplo típico é a pós-graduação de professores. Nenhum dos estudos analisados encontrou impacto significativo no aprendizado dos alunos, particularmente nas primeiras séries.


A remuneração do profissional também tem peso nessa equação. Redes de ensino em que os salários são mais altos atraem para as salas de aula os melhores candidatos interessados em exercer aquela ocupação. Mas, segundo os estudos analisados, aumentos salariais ao longo da carreira que não estejam vinculados ao desempenho do professor têm pouco impacto no aprendizado. “A existência de algum componente variável na remuneração dos professores, como bônus atrelado ao desempenho, pode aumentar o nível de esforço e dedicação deles. Em ambos os casos, o resultado é uma melhora no desempenho dos alunos em exames de proficiência”, diz o texto.


Reduzir o número de alunos por sala de aula é outro caminho para melhorar a qualidade do ensino. Os estudos revelam, por exemplo, que uma redução média de 30% no tamanho da turma leva a um aumento de 44% no que tipicamente um aluno aprende ao longo de um ano. O impacto da redução da quantidade de alunos por turma depende do tamanho original do grupo. Reduzir uma turma grande gera mais impacto sobre o aprendizado do que fazer o mesmo em uma turma que já é pequena.


Outro aspecto evidenciado nas pesquisas diz respeito ao não cumprimento dos dias letivos previstos no calendário escolar. De acordo com os dados levantados, dez dias a menos de aula no ano gera um impacto de 44% no aprendizado e ainda aumenta a taxa de repetência, especialmente entre os alunos de pior desempenho. Uma das explicações para esse resultado é que, para cumprir o currículo estipulado em um ano letivo mais curto, o professor aumenta o ritmo das aulas, passando maior volume de conteúdo em menos tempo, o que prejudica o aprendizado, principalmente, daqueles que apresentam maior dificuldade em absorver os conteúdos. Outra explicação é que o currículo é apenas parcialmente cumprido.



Entenda a metodologia
O projeto “Caminhos para melhorar o aprendizado” foi elaborado a partir de evidências sobre o que é ou não eficaz para melhorar o aprendizado dos alunos.
Um grupo de 17 pesquisadores de quatro renomadas universidades brasileiras – Fundação Getúlio Vargas (FGV), Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Universidade de São Paulo Universidade (USP) e Federal de Minas Gerais (UFMG) – coordenado pelo pesquisador Ricardo Paes de Barros, analisou cerca de 600 pesquisas e selecionou as que cumpriram com os critérios técnicos definidos pela equipe para compor os verbetes e recomendações.


Foram considerados apenas os estudos com amostra de pelo menos 2.000 pessoas ou com cem escolas/sistemas educacionais. Todas as pesquisas que não incluíam alguma forma de controle para o ambiente socioeconômico ou que não apresentavam medidas precisas das estimativas de impacto foram excluídas. Os estudos que tratam do contexto nacional tiveram prioridade.

Por Cleide Quinália / Blog Educação

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