Escola infantil prepara nova geração de "jornalistas"

A matéria abaixo foi publicada no Portal iG. E vale a pena compartilhar com os leitores do blog a iniciativa da professora Ana Paula Emílio Escudeiro, da Escola Municipal de Educação Infantil Antônio Munhoz Bonilha, de São Paulo.

Uma nova geração de "jornalistas" está sendo formada na rede municipal de ensino de São Paulo. Crianças de 4 e 5 anos são os pauteiros, repórteres, fotógrafos e editores de uma rádio e TV cheia de reportagens criativas e entrevistas peculiares.

A Rádio e TV Jacaré, comandada por uma classe do 3º ciclo da Escola Municipal de Educação Infantil Antônio Munhoz Bonilha e criada em outubro do ano passado, possui em seu portfólio três boletins radiofônicos e três reportagens em vídeo e planeja expandir sua atuação para fora da escola, com transmissões para um raio de um quilômetro.

O Jacaré
Tudo começou com um desafio. “Eles queriam me convencer de que, no jardim da escola, viviam cobras, lagartos e jacarés”, conta a professora Ana Paula Emílio Escudeiro, que comanda a turma na escola localizada na zona norte da capital paulista.

A curiosidade sobre os animais rastejantes serviu para a professora se aprofundar no assunto com a turma. “O jacaré virou o centro das atenções deles no ano passado”, lembra.

As pesquisas dos pequenos, sempre registradas em fotos, viraram a pauta do jornal da escola. A intimidade das crianças com as tecnologias foi o que levou ao passo seguinte: a criação da rádio. “Fiz um curso na Delegacia Regional de Ensino (DRE) para aprender a usar o Auda City, um programa que grava audios. Durante uma aula, estava mostrando para eles como funcionava. Houve um momento em que precisei sair da sala e, quando voltei, dois alunos estavam operando sozinhos o sistema, gravando uma historinha que um contava para o outro.”

Ao perceber a facilidade com as gravações, a professora propôs à turma criar boletins sonoros com assuntos do interesse deles. Eis que foi feita a primeira reunião de pauta: “Discutimos o que a gente ia fazer e uma aluna logo veio com a ideia de darmos a previsão do horóscopo! Ela mesma fez essa parte. Decidimos também colocar historinhas e música, e definimos um apresentador para as entrevistas.”

O programa, lançado em novembro do ano passado, foi transmitido para toda a escola por meio de uma caixa de som providenciada pela diretoria e gravado em CD para que os repórteres mostrassem para os pais seus trabalhos. Hoje, a escola conta com um sistema de caixas de som espalhadas pelo andar térreo e a escola estuda a possibilidade de transmitir, via rádio, para o entorno da instituição.

Além das caixas de som, a escola investiu na instalação de um telão, com o aparelho de DVD, para a transmissão dos documentários em vídeo feitos pelos alunos.

Coberturas
Em janeiro de 2010, a professora, apoiada pelo colega e professor de Informática Educativa da escola, Marcelo Augusto Pereira dos Santos, teve a ideia de levar os pequenos repórteres para sua primeira cobertura em campo. “Estava no meio das férias, mas nós convocamos alguns alunos para ir com a gente para o Campus Party (evento sobre tecnologias da informação, que reuniu mais de 6 mil pessoas, em São Paulo). Os pais toparam e fomos num grupo com cinco repórteres”, conta Ana Paula.


A cobertura feita pelos mini-repórters foi, no mínimo, bastante diferente dos demais meios de comunicação. “Eu indicava para eles algumas pessoas para entrevistar, mas eles tinham liberdade para fazer o que tinham vontade”, lembra a professora.

Em vez de conversar com Jon “Maddog” Hall, um dos pais do sistema Linux, que circulava pela feira, as crianças se concentraram em entrevistar o grande pinguim, símbolo da empresa, que ficava ao lado do estande. A caminho da coletiva com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassb, os pequenos preferiram entrevistar um mágico contratado para animar o evento. Segundo Ana Paula, a pauta das crianças era "cor". "Tudo o que era colorido eles queriam entrevistas”.

O projeto de Ana Paula está rendendo frutos. As outras professoras da escola têm demonstrado interesse em aprender a usar os recursos do computador na sala de aula. "É uma aprendizagem para todos. Esse projeto vem acrescentando muito, não só profissionalmente, mas como pessoa", avalia a coordenadora pedagógica da escola, Leila Salles Makay.

O professor Marcelo, parceiro de Ana Paula no projeto, está indo mais longe e levando a ideia para outra escola onde leciona. "Estamos tentando fazer algo parecido na EMEI Eunice dos Santos. As professoras de lá gostaram da idéia."

Novidades
O próximo programa já está sendo preparado. A reportagem do iG teve a oportunidade de participar da reunião de pauta do próximo programa.


“Pessoal, sobre o que vamos falar no próximo programa? O que está acontecendo de importante no mundo agora?”, pergunta a professora. A resposta vem emaranhada, numa nuvem de sugestões, mas uma se destaca: “Vamos falar da Copa do Mundo do Brasil!”, grita um aluno.

Na programação entrarão também as músicas inéditas, feitas por alunos que integram uma banda de rock que será lançada em breve.

Ao serem questionados sobre a profissão que querem seguir quando crescer, a grande maioria disse querer ser jornalista. Duas meninas têm um projeto mais original: uma quer ser cavaleira e a outra domadora de dragões.

Fonte: iG Educação/ Último Segundo - Texto de Carolina Rocha (12/06/2010)

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