Educação para e com as mídias
Veja abaixo entrevista que o Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, realizou com a professora e pesquisadora Raquel Pacheco sobre influência da mídia na formação da identidade dos jovens e a importância da educação para e com as mídias.
Raquel Pacheco é mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e Licenciada em Cinema pela Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Coordena o projeto "Media e Literacia - http://mediaeliteracia.blogspot.com - é membro do Centro de investigação Media e Jornalismo, em Portugal.
É professora universitária em Reportagem e em Educom (Educação e Comunicação). É integrante da Rede de Trabalho do Projeto Criança e Consumo e divulga as ações do Instituto Alana em Luanda, Angola, onde reside hoje e em Portugal.
Criança e Consumo – Em seu livro "Jovens, Media e Estereótipos" você faz uma análise sobre construção da identidade dos jovens pelos meios de comunicação e as implicações disso. O que te levou a fazer essa pesquisa? Quais foram os principais resultados que encontrou na sua investigação?
Raquel Pacheco – Sou do Rio de Janeiro e desde pequena me sentia incomodada com a maneira com que as crianças e os jovens pobres eram tratados socialmente. Na maior parte das vezes, tínhamos que ter cuidado ao andarmos na rua e cruzarmos com um jovem negro e pobre. Era melhor mudar de calçada, ou então corríamos o risco de sermos assaltados. Ficava pensando como deveria ser ruim estar na pele daquelas crianças e jovens, sempre vistos como marginais. No Rio temos a sensação de que só os jovens pobres, moradores de favelas e de preferência negros é que cometem crimes. Depois que assisti ao filme "Cidade de Deus" e acompanhei toda a polêmica entre seus realizadores e o rapper MV Bill, senti definitivamente que deveria conduzir minha investigação por este caminho.
Comprovei aquilo que já imaginava. Existe o estereótipo da imagem do jovem que é "vendida" pela mídia: jovem, branco, de classe média alta/rico. Na maior parte das vezes é explorada sua imagem feminina. Este modelo vende a juventude como um estilo de vida, é a imagem de glamour da juventude. O outro estereótipo é aquele em que o jovem assume uma postura ameaçadora, de criminoso ou deliquente. Normalmente este grupo é composto por jovens pobres, na maioria das vezes não brancos e do sexo masculino. Estes jovens possivelmente têm sua imagem associada à bandidagem, ao tráfico, não são pessoas bem quistas e devem estar restritos ao seu gueto que é a favela. Este jovem não corresponde às necessidades do mercado do "ter": ele é pobre, preto, não é nada, e, normalmente quando há referências na mídia a este tipo de jovem, ele é tratado por menor, delinquente, infrator.
CeC – Você pode explicar o conceito de culturas juvenis que utiliza na sua pesquisa e porque da importância do plural dessa expressão?
Raquel Pacheco – No sentido lato, por cultura juvenil pode entender-se um sistema de valores socialmente atribuídos à juventude (tomada como conjunto referido a uma fase da vida), isto é, valores a que aderirão jovens de diferentes meios e condições sociais. Assim sendo, concluímos que não existe apenas uma cultura juvenil, mas sim várias culturas juvenis. Quando pensamos que o plural de duas palavras pode mudar o modo como encaramos a nossa juventude, isso faz toda a diferença. Quando falamos em cultura juvenil, restringimos a juventude a uma massa compacta e homogênea. Quando percebemos que existem diversas culturas juvenis, acreditamos na diversidade da juventude, abrimos possibilidades para a pluralidade que é a juventude. No livro "Cidade Partida", de Zuenir Ventura, consegui distinguir mais de cinco diferentes culturas juvenis em Vigário Geral. Existem os jovens que conseguem ir para a universidade, os que muito jovens são pais de família, existem as jovens que são mães, os que dão aulas para crianças, os que formam associações de direitos humanos, músicos, traficantes.
CeC – O que é Educomunicação? Que contribuições o trabalho com jovens por meio da educomunicação (ou como você usa em seu livro, "media-educação") tem a dar à construção democrática da imagem desse grupo social? Em que esse trabalho difere da educação formal que é praticada nas escolas?
Raquel Pacheco – A Educomunicação (ou educação para os media ou mídia educação) é um nome novo para uma forma antiga de educar e de ser educado, mas de maneira mais democrática. Explico: estamos educando e sendo educados através dos meios de comunicação social. Lembro de perceber muitas coisas e pensar sobre tantas outras enquanto assistia ao programa de televisão "Balão Mágico", ou "As aventuras de Tio Maneco", ou o "Sítio do Pica Pau Amarelo". Lembro que desde muito pequena adorava acompanhar as novelas junto com a minha empregada, quantas coisas aprendi nas telenovelas. Mas hoje em dia temos ainda a internet, a publicidade a todo vapor. Percebemos então que tínhamos que utilizar a mídia a favor da educação, educar com, para e através dos meios de comunicação. A Educomunicação promove uma junção entre a mídia, o que aprendemos ou vemos através dos meios de comunicação social e a realidade dos grupos com que trabalha – crianças e jovens, por exemplo. Utilizamos os meios de comunicação para analisar, aprender, dialogar e re-construir as diferentes realidades. José Outeiral diz que a escola pode sustentar o desejo, o sonho e a utopia. Não só das mães como dos adolescentes e dos professores. Deve ser um lugar que ensine a pensar – o autor sugere que as crianças chegam às escolas e não pensam. Pensar, diz, surpreende o pensador. Pensar é transgredir. Pensar é fundamental. A escola pode ensinar também a brincar… é mais ou menos assim. Essas palavras são muito importantes para mim e acredito que o caminho para a escola renascer, ou uns dos caminhos, é através da Educomunicação. Ensinar a pensar é a ideia número um dentro deste novo conceito de educação. Através dos projetos de Educomunicação que coordeno, pude perceber que crianças, jovens e adultos descobrem ferramentas dentro de si para lidar com as suas realidades, deixam de ser sujeitos passivos, espectadores de suas próprias vidas e dão um salto, aprendem a pensar, a dialogar, a refletir, a analisar e a produzir.
CeC – Na sua visão, a sociedade de consumo e os padrões de comportamento consumista colaboram com a glamorização da violência nos media?
Raquel Pacheco – Sim, essa pergunta complementa aquilo que dizia na primeira questão. Observamos também que o jovem tem necessidade de sair dos lugares marcados pelo cinema sensacionalista, pelas notícias dos noticiários televisivos, enfim, pela mídia de maneira geral. Todos têm necessidade de auto-estima, de afirmação, mas nem todos têm condições sócio-econômicas para corresponder ao que é esperado e esta desigualdade constantemente é descontextualizada na mídia.
Um jovem português que participou do projeto que cito no meu livro dá um depoimento no vídeo em que diz que: "Uma pessoa que não tem tv a cabo, um carro, gás canalizado (…), não é pessoa". O tratamento diferenciado que é dado ao jovem de uma determinada classe social e o que é dado ao que é de outra produz um processo de mutilação da auto-estima. Acontece uma desvalorização do sujeito, pois já que não pode corresponder aos valores implícitos socialmente, sente-se inferiorizado. Não é o fator econômico que gera a violência, mas a apatia da sociedade, enquanto grupo, em relação aos problemas envolvendo esses jovens vulneráveis.
As pressões exercidas por uma imagem dominante que corresponde à ideia positiva de jovem rico, esperto e feliz, que é constantemente reforçada pela mídia, faz parte da sociedade de consumo que vivemos e cria necessidades de posse de objetos, de status e de uma aparência que normalmente não corresponde à realidade. As diferenças existentes nas formas de adquirir esses bens de consumo e essa estética "juvenil" acentua a desigualdade e demanda uma recusa da subordinação da "ordem social", gerando algumas vezes graves problemas sociais, principalmente os que envolvem drogas e violência.
CeC – Na sua opinião, em que diferem as relações de consumo na construção de identidades dos jovens nos países em que já desenvolveu trabalhos, como Brasil, Portugal e Angola?
Raquel Pacheco – Ousaria dizer que não difere em quase nada, ou em muito pouco. Analisando as relações de consumo associadas à construção de identidades, percebo que aquilo que é bom para os jovens, tanto no Brasil como em Portugal ou Angola, é aquilo que está na mídia. A moda é ditada pela publicidade, pelo que vem de "fora", que depois é adaptado à realidade local. O que se come, o que se bebe, o que se veste ou a música que os jovens ouvem, tratando-se destes três países de língua portuguesa é tudo muito parecido. Existe uma homogeneização cultural onde o jovem perde cada vez mais a ligação com a sua cultura, com a cultura de seu país e se liga a uma cultura globalizada, uma cultura de massa. A Hannah Montana, Miley Cyrus, são bons exemplos disso, que deveria ser para jovens, mas na verdade foi fabricada para entreter crianças. É um ícone tanto no Brasil como em Portugal e em Angola. Não há uma menina dos 5 aos 11 anos, em um destes três países, que não conheça ou possua pelo menos um produto relacionado a Hannah Montana. Hoje em dia os filmes produzidos em Angola por jovens são filmes em sua maioria de violência, baseados, segundos seus realizadores, nos filmes de violência brasileiros e norte-americanos.
CeC – Qual a importância de fazer parte da Rede de Trabalho do Projeto Criança e Consumo para seu trabalho?
Raquel Pacheco – É sentir que não estou sozinha, que no deserto tem postos de socorro. O Projeto surgiu para o meu trabalho como um sopro de ar puro. Sentia muitas vezes que as pessoas estavam mergulhadas nesta inversão de valores, neste capitalismo selvagem, onde o que vale e o que fala mais alto é o dinheiro, é o ter. Sentia que somos massas de manobra a favor do capital. E que a publicidade era o porta-voz do capitalismo. Querem dizer o que devemos comer, vestir, ouvir, onde devemos ir e até o que pensar, pior do que isso, querem fazer o mesmo com as nossas crianças. O Criança e Consumo surge como um divisor de águas, cada newsletter ou publicação é uma vitória, é como se fosse a resposta do ser contra o ter. A rede de trabalho é a cereja em cima do sorvete, é como se dissessem: "Ei, vocês, que querem mais para nossas crianças, que não querem que elas sejam meros cifrões, vocês que trabalham contra isso, que tem princípios diferentes dos princípios do ‘mercado’, venham para cá formar esta rede de trabalho".
Fonte: Instituto Alana
Raquel Pacheco é mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e Licenciada em Cinema pela Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Coordena o projeto "Media e Literacia - http://mediaeliteracia.blogspot.com - é membro do Centro de investigação Media e Jornalismo, em Portugal.
É professora universitária em Reportagem e em Educom (Educação e Comunicação). É integrante da Rede de Trabalho do Projeto Criança e Consumo e divulga as ações do Instituto Alana em Luanda, Angola, onde reside hoje e em Portugal.
Criança e Consumo – Em seu livro "Jovens, Media e Estereótipos" você faz uma análise sobre construção da identidade dos jovens pelos meios de comunicação e as implicações disso. O que te levou a fazer essa pesquisa? Quais foram os principais resultados que encontrou na sua investigação?
Raquel Pacheco – Sou do Rio de Janeiro e desde pequena me sentia incomodada com a maneira com que as crianças e os jovens pobres eram tratados socialmente. Na maior parte das vezes, tínhamos que ter cuidado ao andarmos na rua e cruzarmos com um jovem negro e pobre. Era melhor mudar de calçada, ou então corríamos o risco de sermos assaltados. Ficava pensando como deveria ser ruim estar na pele daquelas crianças e jovens, sempre vistos como marginais. No Rio temos a sensação de que só os jovens pobres, moradores de favelas e de preferência negros é que cometem crimes. Depois que assisti ao filme "Cidade de Deus" e acompanhei toda a polêmica entre seus realizadores e o rapper MV Bill, senti definitivamente que deveria conduzir minha investigação por este caminho.
Comprovei aquilo que já imaginava. Existe o estereótipo da imagem do jovem que é "vendida" pela mídia: jovem, branco, de classe média alta/rico. Na maior parte das vezes é explorada sua imagem feminina. Este modelo vende a juventude como um estilo de vida, é a imagem de glamour da juventude. O outro estereótipo é aquele em que o jovem assume uma postura ameaçadora, de criminoso ou deliquente. Normalmente este grupo é composto por jovens pobres, na maioria das vezes não brancos e do sexo masculino. Estes jovens possivelmente têm sua imagem associada à bandidagem, ao tráfico, não são pessoas bem quistas e devem estar restritos ao seu gueto que é a favela. Este jovem não corresponde às necessidades do mercado do "ter": ele é pobre, preto, não é nada, e, normalmente quando há referências na mídia a este tipo de jovem, ele é tratado por menor, delinquente, infrator.
CeC – Você pode explicar o conceito de culturas juvenis que utiliza na sua pesquisa e porque da importância do plural dessa expressão?
Raquel Pacheco – No sentido lato, por cultura juvenil pode entender-se um sistema de valores socialmente atribuídos à juventude (tomada como conjunto referido a uma fase da vida), isto é, valores a que aderirão jovens de diferentes meios e condições sociais. Assim sendo, concluímos que não existe apenas uma cultura juvenil, mas sim várias culturas juvenis. Quando pensamos que o plural de duas palavras pode mudar o modo como encaramos a nossa juventude, isso faz toda a diferença. Quando falamos em cultura juvenil, restringimos a juventude a uma massa compacta e homogênea. Quando percebemos que existem diversas culturas juvenis, acreditamos na diversidade da juventude, abrimos possibilidades para a pluralidade que é a juventude. No livro "Cidade Partida", de Zuenir Ventura, consegui distinguir mais de cinco diferentes culturas juvenis em Vigário Geral. Existem os jovens que conseguem ir para a universidade, os que muito jovens são pais de família, existem as jovens que são mães, os que dão aulas para crianças, os que formam associações de direitos humanos, músicos, traficantes.
CeC – O que é Educomunicação? Que contribuições o trabalho com jovens por meio da educomunicação (ou como você usa em seu livro, "media-educação") tem a dar à construção democrática da imagem desse grupo social? Em que esse trabalho difere da educação formal que é praticada nas escolas?
Raquel Pacheco – A Educomunicação (ou educação para os media ou mídia educação) é um nome novo para uma forma antiga de educar e de ser educado, mas de maneira mais democrática. Explico: estamos educando e sendo educados através dos meios de comunicação social. Lembro de perceber muitas coisas e pensar sobre tantas outras enquanto assistia ao programa de televisão "Balão Mágico", ou "As aventuras de Tio Maneco", ou o "Sítio do Pica Pau Amarelo". Lembro que desde muito pequena adorava acompanhar as novelas junto com a minha empregada, quantas coisas aprendi nas telenovelas. Mas hoje em dia temos ainda a internet, a publicidade a todo vapor. Percebemos então que tínhamos que utilizar a mídia a favor da educação, educar com, para e através dos meios de comunicação. A Educomunicação promove uma junção entre a mídia, o que aprendemos ou vemos através dos meios de comunicação social e a realidade dos grupos com que trabalha – crianças e jovens, por exemplo. Utilizamos os meios de comunicação para analisar, aprender, dialogar e re-construir as diferentes realidades. José Outeiral diz que a escola pode sustentar o desejo, o sonho e a utopia. Não só das mães como dos adolescentes e dos professores. Deve ser um lugar que ensine a pensar – o autor sugere que as crianças chegam às escolas e não pensam. Pensar, diz, surpreende o pensador. Pensar é transgredir. Pensar é fundamental. A escola pode ensinar também a brincar… é mais ou menos assim. Essas palavras são muito importantes para mim e acredito que o caminho para a escola renascer, ou uns dos caminhos, é através da Educomunicação. Ensinar a pensar é a ideia número um dentro deste novo conceito de educação. Através dos projetos de Educomunicação que coordeno, pude perceber que crianças, jovens e adultos descobrem ferramentas dentro de si para lidar com as suas realidades, deixam de ser sujeitos passivos, espectadores de suas próprias vidas e dão um salto, aprendem a pensar, a dialogar, a refletir, a analisar e a produzir.
CeC – Na sua visão, a sociedade de consumo e os padrões de comportamento consumista colaboram com a glamorização da violência nos media?
Raquel Pacheco – Sim, essa pergunta complementa aquilo que dizia na primeira questão. Observamos também que o jovem tem necessidade de sair dos lugares marcados pelo cinema sensacionalista, pelas notícias dos noticiários televisivos, enfim, pela mídia de maneira geral. Todos têm necessidade de auto-estima, de afirmação, mas nem todos têm condições sócio-econômicas para corresponder ao que é esperado e esta desigualdade constantemente é descontextualizada na mídia.
Um jovem português que participou do projeto que cito no meu livro dá um depoimento no vídeo em que diz que: "Uma pessoa que não tem tv a cabo, um carro, gás canalizado (…), não é pessoa". O tratamento diferenciado que é dado ao jovem de uma determinada classe social e o que é dado ao que é de outra produz um processo de mutilação da auto-estima. Acontece uma desvalorização do sujeito, pois já que não pode corresponder aos valores implícitos socialmente, sente-se inferiorizado. Não é o fator econômico que gera a violência, mas a apatia da sociedade, enquanto grupo, em relação aos problemas envolvendo esses jovens vulneráveis.
As pressões exercidas por uma imagem dominante que corresponde à ideia positiva de jovem rico, esperto e feliz, que é constantemente reforçada pela mídia, faz parte da sociedade de consumo que vivemos e cria necessidades de posse de objetos, de status e de uma aparência que normalmente não corresponde à realidade. As diferenças existentes nas formas de adquirir esses bens de consumo e essa estética "juvenil" acentua a desigualdade e demanda uma recusa da subordinação da "ordem social", gerando algumas vezes graves problemas sociais, principalmente os que envolvem drogas e violência.
CeC – Na sua opinião, em que diferem as relações de consumo na construção de identidades dos jovens nos países em que já desenvolveu trabalhos, como Brasil, Portugal e Angola?
Raquel Pacheco – Ousaria dizer que não difere em quase nada, ou em muito pouco. Analisando as relações de consumo associadas à construção de identidades, percebo que aquilo que é bom para os jovens, tanto no Brasil como em Portugal ou Angola, é aquilo que está na mídia. A moda é ditada pela publicidade, pelo que vem de "fora", que depois é adaptado à realidade local. O que se come, o que se bebe, o que se veste ou a música que os jovens ouvem, tratando-se destes três países de língua portuguesa é tudo muito parecido. Existe uma homogeneização cultural onde o jovem perde cada vez mais a ligação com a sua cultura, com a cultura de seu país e se liga a uma cultura globalizada, uma cultura de massa. A Hannah Montana, Miley Cyrus, são bons exemplos disso, que deveria ser para jovens, mas na verdade foi fabricada para entreter crianças. É um ícone tanto no Brasil como em Portugal e em Angola. Não há uma menina dos 5 aos 11 anos, em um destes três países, que não conheça ou possua pelo menos um produto relacionado a Hannah Montana. Hoje em dia os filmes produzidos em Angola por jovens são filmes em sua maioria de violência, baseados, segundos seus realizadores, nos filmes de violência brasileiros e norte-americanos.
CeC – Qual a importância de fazer parte da Rede de Trabalho do Projeto Criança e Consumo para seu trabalho?
Raquel Pacheco – É sentir que não estou sozinha, que no deserto tem postos de socorro. O Projeto surgiu para o meu trabalho como um sopro de ar puro. Sentia muitas vezes que as pessoas estavam mergulhadas nesta inversão de valores, neste capitalismo selvagem, onde o que vale e o que fala mais alto é o dinheiro, é o ter. Sentia que somos massas de manobra a favor do capital. E que a publicidade era o porta-voz do capitalismo. Querem dizer o que devemos comer, vestir, ouvir, onde devemos ir e até o que pensar, pior do que isso, querem fazer o mesmo com as nossas crianças. O Criança e Consumo surge como um divisor de águas, cada newsletter ou publicação é uma vitória, é como se fosse a resposta do ser contra o ter. A rede de trabalho é a cereja em cima do sorvete, é como se dissessem: "Ei, vocês, que querem mais para nossas crianças, que não querem que elas sejam meros cifrões, vocês que trabalham contra isso, que tem princípios diferentes dos princípios do ‘mercado’, venham para cá formar esta rede de trabalho".
Fonte: Instituto Alana
Oi Cristiane, tudo bem? Obrigada por colocar minha entrevista no seu blog. Também escrevo para estabelecermos um contato e dizer que gosto muito do seu blog. Meu e-mail é raquel.pacheco@gmail.com
ResponderExcluirAbraço, Raquel