O mundo precisa dos cursos virtuais para instrução superior


Cofundadora da plataforma Coursera, de cursos virtuais, diz que universidade não pode ser substituída, mas nunca será para todos
Nascida e formada em Israel, Daphne Koller, 45, professora de ciência da computação na Universidade Stanford (EUA), lançou no ano passado um site de educação a distância, o Coursera.org, que tem 83 instituições parceiras --entre as quais estão a Universidade Harvard e o MIT-- e que anunciou no dia 10 ter recebido US$ 43 milhões em novos investimentos.
Em entrevista à Folha por telefone, Koller explica por que acha que a universidade nunca será substituída por completo (mas seguirá sendo um privilégio) e fala sobre o novo aporte, uma parceria com a USP e o "entusiasmo" dos brasileiros que usam a plataforma.
Aonde os novos investimentos levam o Coursera?
A novos públicos e aos dispositivos móveis. Os trabalhos de internacionalização incluem mais traduções e esforços para chegar a outros países. Também acabamos de contratar um desenvolvedor "mobile", para que as pessoas possam usar o Coursera enquanto se deslocam e para chegar a lugares com menor conectividade, como o mundo em desenvolvimento.
Países pobres precisam mais da educação a distância?
Há uma carência maior. Nos EUA ponderamos sobre se a universidade que fez uma pessoa é melhor que a que fez a outra, e essa é uma questão importante. Mas há países em que a questão é: "Existe uma universidade?". É desse tipo de lugar que estou falando.
Na Índia, existe um projeto para aumentar de 13% para 30% o índice de formação superior. Para isso, o país teria que construir um número estimado de 1.600 universidades. Mesmo se você puser de lado o problema logístico da construção, se essas universidades existissem não haveria professores o suficiente para lecionar nelas. Por isso é que você precisa de um método alternativo.
E isso na Índia, que tem um sistema de educação relativamente avançado. Imagine na África, países do sudeste asiático ou mesmo o Brasil. A capacidade é ainda menor.
A universidade pode ser substituída por cursos on-line?
Pode ser substituída no ensino de pessoas já graduadas e que querem expandir seu conhecimento, mas, no geral, não. A universidade exerce papéis geralmente postos de lado e que vão além da simples instrução, como a geração de conteúdo científico. Além disso, ela não só treina os estudantes, mas também os socializa e os ensina a serem pessoas melhores.
Qual a importância do Brasil para o Coursera?
Uma parcela de por volta de 5% da nossa base de usuários é composta por brasileiros --um índice muito alto. Uma coisa que percebi sobre eles é o quão apaixonados são pelo site. Eles demonstram muito mais do que outros grupos estar gratos pela oportunidade e entusiasmados em poder colaborar, trabalhando em traduções, por exemplo.
Atualmente, não há no site conteúdo criado em português. Isso vai mudar?
Sim. Acho que precisamos tanto continuar traduzindo o material que já existe quanto produzir um voltado para as pessoas que falam português --não só no Brasil, mas em várias partes do mundo.
Estamos bastante empolgados com a possibilidade de fazer parcerias, como uma com a Universidade de São Paulo --seria ótimo se eles se dispusessem a criar conteúdo para os falantes de português.
Há uma parceria com a USP?
Ainda não há nada finalizado, mas, sim, estamos trabalhando nisso.
Site brasileiro já tem 3 cursos com certificado
DE SÃO PAULO
Desde o mês passado, a USP oferece cursos de física e de estatística on-line no site Veduca, que terão prova presencial para emitir um certificado.
No último dia 11, foi a vez da federal UnB (Universidade de Brasília) passar a oferecer o seu primeiro curso certificado no serviço, de bioenergética.
Somados, os três cursos já atraíram 15 mil pessoas, segundo a empresa.
As provas serão as mesmas que são aplicadas a alunos presenciais e terão a supervisão dos próprios professores responsáveis pela disciplina, conta o fundador do Veduca, Carlos Souza, 32.
"Damos prioridade às áreas que carecem de mais profissionais no Brasil, como as tecnológicas e de engenharia", diz.
As próximas universidades que lançarão cursos pelo Veduca são a FGV, o ITA, a PUC-Rio e a UFPB --Unesp e Unicamp já oferecem algumas disciplinas.
Atualmente, o serviço tem 110 mil usuários com cadastro --que não é obrigatório--, e acumulou 400 mil visitas no mês passado. Segundo Souza, a meta é levar esse número a 1 milhão até o fim do ano.
AUDACIOSO
Em maio deste ano, a start-up de educação a distância Udacity anunciou que vai oferecer no ano que vem um curso de mestrado em ciências da computação totalmente on-line, o primeiro do tipo no mundo, que será reconhecido pelo sistema educacional dos EUA.
O curso custará US$ 7.000, cerca de R$ 15,6 mil, terá duração de cerca de três anos e é fruto de uma parceria com o conceituado Instituto de Tecnologia da Geórgia. Quem quer só assistir às aulas, sem ganhar o certificado, poderá vê-las de graça. Há mais informações no site udacity.com/georgiatech.
Outro serviço popular de educação on-line é o edX (edx.org).
Fonte: Folha de S. Paulo /Yuri Gonzaga 

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