Social ou antissocial?
Dois estudos recentes reabrem o debate sobre o impacto que redes como o Facebook têm nas nossas vidas
Alexandre Aragão - Folha de São Paulo (19/11/2012)
AS REDES EM USO
Alexandre Aragão - Folha de São Paulo (19/11/2012)
Qual o impacto das redes sociais na vida das pessoas? Elas nos aproximam ou nos afastam? A discussão, que mobiliza acadêmicos desde que Orkut e Facebook se tornaram populares, ganhou novos capítulos recentemente, com o lançamento de dois livros de teorias opostas.
De um lado estão o sociólogo Barry Wellman, da Universidade de Toronto, e Lee Rainie, diretor do instituto Pew. Eles são autores de "Networked: The New Social Operating System" ("Em Rede: O Novo Sistema Social", sem edição em português), no qual defendem que esses sites são elementos de união.
Do outro lado, Andrew Keen, historiador, empreendedor pioneiro do Vale do Silício e autor de "Vertigem Digital" (Zahar, R$ 44,90), no qual procura explicar por que as redes sociais estão "dividindo, diminuindo e desorientando" seus usuários.
"REVOLUÇÃO TRIPLA"
Wellman e Rainie recorrem a pesquisas sobre o uso de tecnologia nos EUA, produzidas pelo instituto Pew, para argumentar que a sociedade está ficando mais integrada por três fatores, que eles definem como "revolução tripla".
O primeiro, do qual a web é peça-chave, é a substituição de grupos sociais coesos por redes interligadas entre si por vários indivíduos.
"No passado, as pessoas tinham círculos sociais pequenos, fechados, nos quais familiares, amigos próximos, vizinhos e líderes comunitários formavam uma rede de proteção e ajuda", escrevem os autores. "Este novo mundo de individualismo conectado gira em torno de grupos mais soltos e fragmentados que oferecem auxílio."
Segundo eles, completam essa "revolução" o aumento do acesso à banda larga e o uso disseminado de smart-phones e tablets.
"Dizem que as redes sociais desagregam, mas não há nenhuma evidência sistemática de que isso esteja, de fato, ocorrendo", afirma Wellman, em videoconferência com aFolha.
PRISÕES DE LUXO
Já Andrew Keen utiliza como alegoria de sua tese uma prisão do castelo de Oxford que foi transformada em hotel cinco estrelas. Nela, um átrio central permitia que todos os prisioneiros fossem vigiados -hoje, as antigas celas viraram quartos luxuosos.
Para ele, assim são as redes sociais: parecem hotéis cinco estrelas, mas não passam de cadeias em que um preso vigia o outro constantemente. "Muito da minha conclusão foi derivado do meu próprio uso de redes sociais", afirma, por e-mail.
O uso que fazemos das redes sociais, diz, serve para nos manter ligados a nossas identidades virtuais, o que nos faz deixar de lado as reais.
Para Keen, uma frase de Sherry Turkle, professora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), resume sua opinião: "Entramos em rede porque estamos ocupados, mas acabamos passando mais tempo com a tecnologia e menos uns com os outros".
273 é o número médio de amigos que os brasileiros têm em redes sociais
91% dos brasileiros com acesso à internet têm perfil em alguma rede social
69% dos adultos que usam internet nos EUA têm perfil em redes sociais
92% é para quanto sobe a porcentagem entre a população americana de 18 a 29 anos
- Para autores, vigilância na web ameaça internautas
- 1 - Estudiosos alertam para uso de dados de usuários por governos
2 - Venda de informações em redes sociais por grandes companhias também preocupa pesquisadores
"Antes, a vigilância era tecnicamente mais difícil", diz Wellman. "Devemos nos preocupar em relação a governos e a grandes companhias que trabalham para juntar nossas informações."
Andrew Keen defende ideia semelhante contra as redes sociais. "A realidade é que, para o bem ou para o mal, assim que uma foto, uma atualização ou um tuíte são publicados, eles se tornam propriedade pública", escreve, sobre privacidade.
Pesquisa realizada pelo instituto Pew nos EUA, citada no livro de Rainie e Wellman, mostra que, quanto mais crucial a informação, menos pessoas a compartilham de modo consciente.
Entre todos os usuários da web, 42% sabem ter ao menos uma foto on-line. Em relação às pessoas que sabem ter o endereço de suas casas na rede, cai para 26%.
Fonte: Folha de S. Paulo
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