Cinema e Educação: A ficção para superar o medo

Compartilhamos plano de aula da professora Dra. Cláudia Mogadouro/USP para trabalhar em sala de aula com o filme nacional Eu e Meu Guarda-Chuva, de Tony Vanzolini. Bom trabalho!


Tema:
Língua Portuguesa;
História;
Geografia;
Arte.
Disciplina: Português
Público alvo: Ensino Fundamental I
Autor: Profa. Dra. Cláudia Mogadouro - SP/SP
O Filme: Eu e Meu Guarda Chuva, de Tony Vanzolimi.
PLANO DE AULA:

Objetivo:

Trabalhar os medos infantis e sua superação a partir de produções simbólicas;
Elaborar, a partir de memórias familiares, a formação da identidade da criança;
Refletir sobre a relação criança – escola e seus possíveis medos, fantasias, desconfortos;

Caro professor, antes de dar sequência às atividades sugeridas neste plano de aula, acesse "Material de Apoio" e "Para Organizar o seu Trabalho e Saber Mais" 
(no final do texto).

1ª Etapa:

Início de Conversa

Desde o início do filme Eu e Meu Guarda-chuva, sabe-se que o garoto Eugênio, de 11 anos, está muito triste com o falecimento recente de seu avô, de quem era muito próximo. A insegurança se acentua com o fato de ser o último dia de férias e ele passará a estudar em um prédio muito antigo, carregado de histórias assustadoras. Seus melhores amigos, Cebola e Frida, também mudarão de escola e propõem, como última aventura de férias, explorar o cenário da nova escola que é “assombrada” pelo fantasma do Barão de Von Staffen. A lenda diz que o Barão maltratava as crianças, “torturando-as” com perguntas impossíveis de serem respondidas.  Ao pularem o portão da escola, descobrem que o Barão fugira de um quadro e mantém crianças em cativeiro. Frida é raptada e Eugênio decide salvá-la, com o apoio do medroso Cebola. O que dá coragem a Eugênio é seu amor por Frida e o velho guarda-chuva, que herdou de seu avô.

As peripécias das crianças acontecem em uma narrativa não realista, sem lógica de espaço e tempo, remetendo a uma série de contos de fadas e histórias fantásticas, como Alice no País das Maravilhas, entre outras. A escola representa o mundo difícil a ser enfrentado, o amadurecimento necessário, o desconhecido que provoca o medo.

As quatro personagens principais (o vilão e as três crianças) são bem construídas, uma vez que se completam, somando traços humanos e infantis teoricamente antagônicos como medo/coragem, espertezas/tolices, inteligência/ignorância, força/fraqueza, o que pode desencadear muitas reflexões sobre a natureza humana, que muitas vezes é tão contraditória e complexa.

O guarda-chuva é um objeto chave e sua presença/ausência determina a narrativa, pois Eugênio sente-se perdido sem ele. É muito comum que as crianças tragam junto de si seus “guarda-chuvas”, uma espécie de amuleto que as acalma, lhes dá segurança, ajuda-as a pegar no sono. Pode ser uma chupeta, um cobertor, uma boneca, bolas de gude ou um chaveiro dado por alguém importante em sua vida. Normalmente é um objeto símbolo de uma história, que se confunde com a identidade da criança.

O filme também faz uma crítica à cultura escolar assustadora arraigada ao nosso imaginário, cobranças exageradas, ensino enciclopédico, distanciamento entre professores e alunos, peso das tradições, entre outros aspectos que podem ser trabalhados por educadores (cursos de licenciatura);

Eu e meu guarda-chuva é uma inteligente (e rara) produção brasileira voltada para as crianças, que permite reflexões sobre sentimentos profundos, de forma lúdica.

2ª Etapa:
Proposta da pesquisa

Após uma reflexão/discussão coletiva sobre lembranças das crianças de quando elas eram bem pequenas, pode ser solicitada uma pesquisa, a partir de conversas com seus familiares, fotos e possíveis objetos, aos quais eram bastante apegados (chupetas, cobertores, ursinhos de pelúcia, entre outros).

3ª Etapa:
Reunião dos dados coletados

Os resultados da coleta de dados (histórias narradas, fotos, objetos) são compartilhados por toda a classe. Realiza-se uma discussão sobre as histórias dos medos das crianças (sobre o quê lhes causava medo ou o que seus familiares relataram). Possivelmente, aparecerão histórias de medos por pessoas, personagens (palhaços, papai noel, pessoas fantasiadas), prédios, situações. A ideia da atividade é desmistificar o que nos causa medo, pensando o que é externo (violência urbana, doença, dor física) e o que é interno (sentimentos, pesadelos, fantasias). É muito importante que os sentimentos e relatos das crianças sejam muito respeitados por todos. Para isso o professor deve conduzir a atividade com muita tranquilidade e segurança, de forma que nenhum relato seja motivo de piada, ou qualquer criança seja ridicularizada por expor seus medos (antigos ou atuais).

Pode-se pedir o registro em textos curtos e reuni-los para atividade posterior.

4ª Etapa:
Exibição do filme Eu e Meu Guarda Chuva, de Toni Vanzolimi

Ficha Técnica:Gênero: Aventura, infanto-juvenil; Direção: Toni Vanzolini
Elenco: Lucas Cotrim (Eugênio); Rafaela Victor (Frida); Victor Froiman (Cebola), Daniel Dantas (Barão de Von Staffen), Participações especiais de Arnaldo Antunes (Cara Achados e Perdidos), Mariana Lima (mãe de Eugênio), Paola Oliveira (Frida adulta, aeromoça), Camila Amado (Dona Nenê); Raul Barreto (vigia da escola); Leandro Hassum (motorista de táxi de Praga) Francisco Gaspar (porteiro do prédio).
País e ano de produção: Brasil/2010; Duração: 85 minutos.

É importante que o filme (de 85 minutos) seja exibido de uma única vez, para que se mantenha o efeito do suspense. Uma rápida apresentação, antes da apresentação, deve ser feita sobre a produção do livro/CD que originou uma peça teatral e, posteriormente, foi adaptada para o cinema. Também pode ser feita uma rápida apresentação dos personagens e dos cenários.
 

5ª Etapa:

Debate sobre o filme

Seria interessante que as crianças fizessem relação entre a história do filme e as memórias discutidas em sala de aula, que relacionassem como superaram seus medos, como se apoiavam em seus objetos prediletos ou como se sentiam mais seguras para enfrentar as dificuldades.

Discussão sobre experiências de perdas de pessoas queridas (no caso do filme, Eugênio perdera recentemente seu avô).

As crianças, a partir do filme, podem compartilhar suas lembranças sobre o (s) primeiro (s) dia (s) de aula, mudanças de escola, a expectativa do desconhecido: escola nova, novos amiguinhos e professores, novos espaços, alteração do cotidiano, etc. Boas e más experiências escolares podem ser compartilhadas.

6ª Etapa:
Língua Portuguesa: Produção de texto

As crianças podem produzir um pequeno texto, com ou sem ilustrações, sobre as histórias relatadas, como se fosse a sua biografia. É opcional se a criança se valerá dos dados pesquisados de sua própria história, ou se misturará várias histórias e inventará uma nova história.  É bem importante respeitar a fantasia da criança;
Para as crianças alfabetizadas, pode ser trabalhado o livro que gerou o filme.

7ª Etapa:

História e Geografia: Conceito de temporalidade, cronologia e espacialidade

A partir das pesquisas realizadas e do debate sobre o filme, a criança pode elaborar uma linha do tempo, sobre a sua própria história de vida: seu nascimento, o dos irmãos, entrada na escola, algum acidente, acontecimentos significativos para ela;

Na cena em que Eugênio e Cebola se veem dentro de um avião, houve uma viagem no tempo e eles veem Frida adulta. Pode ser discutida a ideia de ficção que permite a viagem no tempo;

A cidade onde a história do filme se passa é indefinida; sabe-se que é no Brasil, pois falam português; depois eles viajam à Praga, mas tampouco isso é muito claro. Em certo momento, a parede de um museu em Praga se abre e eles se veem no colégio, no Brasil, novamente; Em vários outras situações do filme, fica claro que a narrativa é fantástica pelo fato da relação espaço/tempo não ser real. Na aula de Geografia, pode-se trabalhar com mapas reais e fictícios, discutindo o conceito de espacialidade.

8ª Etapa:

Arte: Produção de exposição de artes visuais; Música.

A experiência do filme pode ser ponto de partida para uma exposição sobre a memória afetiva das crianças: as várias fases da infância, aliando aos estudos de cronologia realizados em História, histórias de medo, de monstros, entre outras memórias;

Podem também ser trabalhadas (ouvidas, cantadas, tocadas, dançadas) as músicas produzidas em 2001, que deram origem ao CD que acompanhou o livro.



Para saber mais:
O filme tem origem no livro homônimo de Branco Melo e Hugo Possolo, escrito em 2001 e cuja publicação acompanhou um CD com a trilha sonora da história. O livro também gerou uma peça de teatro. Saiba mais e ouça as músicas do CD.

A obra tem uma relação com o grupo musical Titãs. Branco Mello (guitarrista e vocalista do grupo) escreveu o livro original juntamente com Hugo Possolo (do grupo Parlapatões). As músicas do CD foram compostas com Ciro Pessoa (ex-titã). A trilha sonora do filme foi composta também por Branco Mello, em parceria com Emerson Villani (também ex-titã). Outra participação no filme de um ex-membro da banda é a de Arnaldo Antunes, como o “Cara Achados e Perdidos”.

A obra guarda uma semelhança aparente com a saga de Harry Potter, mas que se resume a duas principais caraterísticas: o fato de o protagonista ser um garoto muito inteligente e estar acompanhado de um amigo um pouco “burro” e uma amiga muito inteligente e charmosa; e a narrativa mágica e de aventura, desenvolvida em um cenário sombrio. As histórias são diferentes, mas a comparação é interessante, uma vez que nos leva às características brasileiras e universais do filme. Sugestão para saber mais sobre o filme: leitura de crítica de Celso Sabadin.

No universo infantil, outra produção que pode servir de aproximação com o filme estudado é a ficção Castelo Ra-tim-bum (tanto a televisiva, como a cinematográfica, ambas com direção de Cao Hamburger. A similaridade está no conjunto de protagonistas, sendo dois garotos e uma menina, que também atuam em um universo mágico.
Fonte: NET Educação

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sites para baixar ou ler livros em espanhol

10 filmes que retratam a Alegoria da Caverna de Platão

O sonho de Talita