Bate-papo: dois experts debatem o uso da mídia na educação (parte 2)
Continuação da entrevista do Monitor de Mídia com Alejandra Bujokas e Manuel Pinto:
MM: Todo o aparato técnico desenvolvido principalmente nas últimas décadas deflagra a importância do sistema de comunicação eletrônica na organização e no controle da sociedade. Então com as colocações que fizeram vocês também já entraram na questão 5 que seria: além de diversos fatores relacionados à mídia, um deve aqui ser ressaltado: a função de transmissor de valores. Esta capacidade de fazer parte do processo de formação faz com que a ausência de alguns veículos de comunicação seja inconcebível na complexa organização das sociedades modernas? Como vocês dois já disseram, a televisão é um meio importante.
MP: Nas pesquisas que fiz no âmbito do meu doutoramento, encontrei muitas crianças para quem a TV era um meio de aprendizagem de dimensões que a nós, intelectuais urbanos, não nos passaria porventura pela cabeça: aprender a falar, a cantar, a conhecer a vida noutras partes do mundo, a conhecer os animais... Se se trata de experiências importantes no quotidiano das crianças, então como ignorar, na formação, algo que é importante? Como deixar de parte esse 'capital'?
AB: Tem gente que vive sem antibióticos, sem almoçar todos os dias, tem gente que vive sem casa para morar... Tem gente que vive sem Internet e até sem televisão. Quando esses meios ajudam a trazer dignidade, eles passam a ter um papel importante na vida das pessoas. Quando trazem pedofilia, é melhor viver sem eles.
MP: A verdade é que hoje, muitos tendem a achar que isso não deve acontecer (deixar de parte), mas a prática não muda. Tudo fica num discurso de intenções ou do que poderia ser.
AB: A questão é que não existem uma TV e uma Internet, mas formas de uso, marcadas por relações de poder... É preciso conhecer profundamente cada caso.
MP: Exatamente, Alexandra.
MM: Essa vai direcionada ao Manuel (Alexandra se quiser fazer alguma colocação ou explicar o contexto, à vontade). Em uma das últimas entradas do blog MIDIALAB, a Alexandra comentou que “talvez a rejeição ao aprendizado da leitura e da escrita seja um mecanismo de autodefesa: desvalorizar algo que não se sabe pode ser uma saída para não sofrer por não sabê-lo”. Você concorda? Se sim, de que forma você acha que a mídia pode contribuir para que as crianças se interessem ao aprendizado da leitura e escrita e não se sintam menosprezadas diante de outros jovens?
AB: Eu fiz uma análise muito pessoal da experiência que estou vivendo no laboratório de mídia-educação da USC. Estamos fazendo o que podemos para criar atividades educativas que, num salto, partam da imagem para o texto e voltem para a imagem, para que as crianças aprendam a codificar e decodificar idéias em diversas modalidades de códigos.
MP: A Alexandra escreve a partir de uma realidade concreta que importa ter presente. Por aqui não tenho observado a renitência à aprendizagem da leitura e da escrita. O que se passa é que a leitura e a escrita talvez tenham de ser repensadas de forma bastante radical. O que é, hoje, ser alfabetizado? Será apenas dominar as letras, a gramática da escrita? E os códigos da imagem? E as formas várias de expressão e comunicação? Poder-se-á ser cidadão a parte inteira sem essas várias dimensões combinadas?
AB: O que temos percebido é que os alunos têm instrumentos cognitivos razoáveis para avaliar uma mensagem publicitária ou um trailer de cinema, por exemplo, quando estamos assistindo e conversando espontaneamente. Mas eles não conseguem, por exemplo, sintetizar o que aprenderam num post curto para o blog. Como será que a escola lidou com os textos deles nesses anos todos? Como foi que a professora reagiu diante dos erros de ortografia e gramática? O que será que eles pensam quando ficam sabendo que o Inep analisou a prova do Enem que eles fizeram e viu que a pior escola particular é melhor que 75% das públicas? Se eu fosse adolescente de escola pública ruim, também iria menosprezar a cultura que dizem que eu devo ter, mas não me dão chance de aprendê-la. Pois é Manuel, estou pensando se há relação direta entre saber ler e escrever com competência e saber pensar (e, principalmente, repensar) a própria realidade com competência...
MP: Estou a compreender melhor o alcance da frase inicial da Alexandra. A minha pergunta, então, seria esta: se se valorizasse mais a cultura juvenil nas suas várias linguagens, ou seja, naquilo em que eles são, digamos, 'alfabetizados' e em certa medida, 'alfabetizar', não se facilitaria a aprendizagem da leitura e da escrita tout court? Talvez haja que repescar algo da filosofia e prática educacional de Paulo Freire, nos seus trabalhos com gente simples. Ele começava pelas experiências de vida e as letras e palavras emergiam daí.
AB: Os adolescentes precisam de regras - de comportamento e de gramática - para que a vida deles, assim como a nossa, fique mais organizada. Partir do gosto e da identidade do adolescente é, justamente, o ponto de partida. Mas, se não formos um pouco mais adiante, a atividade com as mídias acaba celebrando a vontade do aluno e não faz progressos cognitivos importantes.
MP: Há dois anos, fiz uma experiência de ensino do jornalismo com apoio de blogs. O facto de serem m espaço de expressão pública foi um factor importante que levou os estudantes a quererem cuidar mais da qualidade da sua expressão escrita.
AB: Manuel, também temos observado isso por aqui. Alguns alunos escrevem e pedem para a gente corrigir. Mas outros ficam ofendidos...
MM: Creio que a experiência é parecida com o que a Alexandra faz também, como descreve no blog. Falando nele, Alexandra, no MIDIALAB , você relata uma série de atividades e oficinas relacionadas ao cinema feitas por você e seu grupo de alunos. Qual é a maior contribuição que a sétima arte pode oferecer na educação dos jovens?
AB: Acho que uma das mais importantes é mostrar que o que gera sentido é a linguagem e que, portanto, a imagem, por mais realista que seja, nunca é transparente. Há sempre um ponto de vista específico, endereçado para um público, que partilha de um conjunto de valores. E que é mais sensato viver sabendo que valores e representações têm mais a ver com disputas de poder do que com realidade... É isso que estamos tentando ensinar no Midialab.
MP: Há uns anos, integrei uma banca de mestrado onde foi apresentada uma tese de uma professora que, num ambiente socialmente cheio de problemas, fez um trabalho de vários anos em torno de cinematografias de autores considerados de referência. Lembro-me de Bergman, por exemplo. Trabalhavam certas cenas, e sobretudo iam, depois, com câmeras para a rua, discutindo a seguir os registros colhidos e o modo como eles poderiam integrar certas narrativas. A motivação, a descoberta do que não é visível à vista desarmada, a descoberta de quem estava por detrás da obra - tudo isso integrou um processo não só de descoberta do cinema e de formação do gosto, mas de construção do próprio grupo-turma.
AB: Fizemos algo aqui também. O mesmo story line virou filme de comédia e de suspense, por causa do modo como foram feitos os diálogos e a sonoplastia. Essa atividade deu aos alunos certa experiência no trato com a linguagem... Também fizemos atividades com montagem, para viver a experiência de como é juntar de modo artificial no filme aquilo que está separado na realidade. Eles gravaram e editaram direitinho. Mas na hora de escrever sobre no blog...
MP: Creio que a noção de montagem é fulcral. Vi isso, sobretudo com trabalhos de televisão.
MM: São interessantíssimas as atividades que vocês realizam no MIDIALAB, principalmente essas envolvendo cinema e publicidade, realmente é uma forma muito inteligente de fazer as crianças se interessarem.
AB: Pois é, Gabriela. Mas não podemos nos furtar da responsabilidade de ensinar a linguagem escrita, mesmo que as mídias audiovisuais e a Internet sejam mais atrativas. Não sei se o Manuel ficou sabendo dessa, mas os alunos fizeram uma "campanha de valorização do nerd" na escola... Usamos essa estratégia para que os alunos experimentassem com a noção de apelo publicitário...
MP: Interessante, essa campanha! Não soube, não!
AB: A tarefa era pensar no que é que os "bagunceiros" gostam e dar um jeito de associar o estudo com algo interessante para quem não gosta de estudar. O trabalho que eu mais gostei foi o que desenvolveu o seguinte raciocínio: "Estudar também é uma forma de chamar a atenção", já que os alunos disseram que os bagunceiros fazem bagunça porque gostam de ser o centro das atenções. Naquele dia, eles realmente fizeram um esforço cognitivo importante, e foram da realidade ao texto, do texto à imagem... Só não conseguiram sintetizar a atividade do dia no blog.
MP: Neste momento, no único mestrado em que lecciono este tipo de questões, faço um trabalho de outra natureza: em vez de dar lições, pus todo o mundo a ir para o terreno, procurar testar aquelas idéias-feitas acerca das crianças e dos 'efeitos das mídias nas crianças'. Pô-los a pensar, a interrogar os lugares-comuns, aquilo que parece óbvio. Tem sido muito difícil e, ao mesmo tempo, exigente, porque estamos dependentes dos inputs e questões dos estudantes para aprofundar e problematizar os temas.
MM: Ah, muito bom que você comentou isso, Manuel. Já aproveito para lançar a última questão que foi formulada a partir de uma entrada do seu blog, EDUCOMUNICAÇÃO: Você comentou sobre o texto publicado no Times “Is technology ruining children?”, por John Cornwell. O que vocês pensam da idéia já formada por várias pessoas de que a mídia destrói a infância?
AB: Do meu ponto de vista, a noção de infância é histórica e, como tudo que é histórico, muda. Houve um tempo em que a noção de infância não existia, depois ela foi criada e associada com o cuidado. Os tempos são outros e a idéia de cultivo, de controle, vem sendo substituída pela idéia de liberdade, ao menos no discurso das corporações produtoras de cultura. Não sei onde isso vai parar a noção tradicional de infância está sim sendo minada. Vai ser substituída por outra. Espero estar viva para poder entender que noção será essa, porque curiosa eu estou!
MP: Já se disse isso tudo da BD, do cinema, do rádio, da TV, do computador, do videogame... A Alexandra já comentou o essencial, logo no início desta conversa. Há riscos e oportunidades. É preciso aprender a tirar partido das oportunidades e controlar os riscos. Não embarco nem em discursos encantatórios nem catastrofistas. Ainda que existam motivos de encanto e de cautela.
(Gabriela Azevedo Forlin)
MP: Nas pesquisas que fiz no âmbito do meu doutoramento, encontrei muitas crianças para quem a TV era um meio de aprendizagem de dimensões que a nós, intelectuais urbanos, não nos passaria porventura pela cabeça: aprender a falar, a cantar, a conhecer a vida noutras partes do mundo, a conhecer os animais... Se se trata de experiências importantes no quotidiano das crianças, então como ignorar, na formação, algo que é importante? Como deixar de parte esse 'capital'?
AB: Tem gente que vive sem antibióticos, sem almoçar todos os dias, tem gente que vive sem casa para morar... Tem gente que vive sem Internet e até sem televisão. Quando esses meios ajudam a trazer dignidade, eles passam a ter um papel importante na vida das pessoas. Quando trazem pedofilia, é melhor viver sem eles.
MP: A verdade é que hoje, muitos tendem a achar que isso não deve acontecer (deixar de parte), mas a prática não muda. Tudo fica num discurso de intenções ou do que poderia ser.
AB: A questão é que não existem uma TV e uma Internet, mas formas de uso, marcadas por relações de poder... É preciso conhecer profundamente cada caso.
MP: Exatamente, Alexandra.
MM: Essa vai direcionada ao Manuel (Alexandra se quiser fazer alguma colocação ou explicar o contexto, à vontade). Em uma das últimas entradas do blog MIDIALAB, a Alexandra comentou que “talvez a rejeição ao aprendizado da leitura e da escrita seja um mecanismo de autodefesa: desvalorizar algo que não se sabe pode ser uma saída para não sofrer por não sabê-lo”. Você concorda? Se sim, de que forma você acha que a mídia pode contribuir para que as crianças se interessem ao aprendizado da leitura e escrita e não se sintam menosprezadas diante de outros jovens?
AB: Eu fiz uma análise muito pessoal da experiência que estou vivendo no laboratório de mídia-educação da USC. Estamos fazendo o que podemos para criar atividades educativas que, num salto, partam da imagem para o texto e voltem para a imagem, para que as crianças aprendam a codificar e decodificar idéias em diversas modalidades de códigos.
MP: A Alexandra escreve a partir de uma realidade concreta que importa ter presente. Por aqui não tenho observado a renitência à aprendizagem da leitura e da escrita. O que se passa é que a leitura e a escrita talvez tenham de ser repensadas de forma bastante radical. O que é, hoje, ser alfabetizado? Será apenas dominar as letras, a gramática da escrita? E os códigos da imagem? E as formas várias de expressão e comunicação? Poder-se-á ser cidadão a parte inteira sem essas várias dimensões combinadas?
AB: O que temos percebido é que os alunos têm instrumentos cognitivos razoáveis para avaliar uma mensagem publicitária ou um trailer de cinema, por exemplo, quando estamos assistindo e conversando espontaneamente. Mas eles não conseguem, por exemplo, sintetizar o que aprenderam num post curto para o blog. Como será que a escola lidou com os textos deles nesses anos todos? Como foi que a professora reagiu diante dos erros de ortografia e gramática? O que será que eles pensam quando ficam sabendo que o Inep analisou a prova do Enem que eles fizeram e viu que a pior escola particular é melhor que 75% das públicas? Se eu fosse adolescente de escola pública ruim, também iria menosprezar a cultura que dizem que eu devo ter, mas não me dão chance de aprendê-la. Pois é Manuel, estou pensando se há relação direta entre saber ler e escrever com competência e saber pensar (e, principalmente, repensar) a própria realidade com competência...
MP: Estou a compreender melhor o alcance da frase inicial da Alexandra. A minha pergunta, então, seria esta: se se valorizasse mais a cultura juvenil nas suas várias linguagens, ou seja, naquilo em que eles são, digamos, 'alfabetizados' e em certa medida, 'alfabetizar', não se facilitaria a aprendizagem da leitura e da escrita tout court? Talvez haja que repescar algo da filosofia e prática educacional de Paulo Freire, nos seus trabalhos com gente simples. Ele começava pelas experiências de vida e as letras e palavras emergiam daí.
AB: Os adolescentes precisam de regras - de comportamento e de gramática - para que a vida deles, assim como a nossa, fique mais organizada. Partir do gosto e da identidade do adolescente é, justamente, o ponto de partida. Mas, se não formos um pouco mais adiante, a atividade com as mídias acaba celebrando a vontade do aluno e não faz progressos cognitivos importantes.
MP: Há dois anos, fiz uma experiência de ensino do jornalismo com apoio de blogs. O facto de serem m espaço de expressão pública foi um factor importante que levou os estudantes a quererem cuidar mais da qualidade da sua expressão escrita.
AB: Manuel, também temos observado isso por aqui. Alguns alunos escrevem e pedem para a gente corrigir. Mas outros ficam ofendidos...
MM: Creio que a experiência é parecida com o que a Alexandra faz também, como descreve no blog. Falando nele, Alexandra, no MIDIALAB , você relata uma série de atividades e oficinas relacionadas ao cinema feitas por você e seu grupo de alunos. Qual é a maior contribuição que a sétima arte pode oferecer na educação dos jovens?
AB: Acho que uma das mais importantes é mostrar que o que gera sentido é a linguagem e que, portanto, a imagem, por mais realista que seja, nunca é transparente. Há sempre um ponto de vista específico, endereçado para um público, que partilha de um conjunto de valores. E que é mais sensato viver sabendo que valores e representações têm mais a ver com disputas de poder do que com realidade... É isso que estamos tentando ensinar no Midialab.
MP: Há uns anos, integrei uma banca de mestrado onde foi apresentada uma tese de uma professora que, num ambiente socialmente cheio de problemas, fez um trabalho de vários anos em torno de cinematografias de autores considerados de referência. Lembro-me de Bergman, por exemplo. Trabalhavam certas cenas, e sobretudo iam, depois, com câmeras para a rua, discutindo a seguir os registros colhidos e o modo como eles poderiam integrar certas narrativas. A motivação, a descoberta do que não é visível à vista desarmada, a descoberta de quem estava por detrás da obra - tudo isso integrou um processo não só de descoberta do cinema e de formação do gosto, mas de construção do próprio grupo-turma.
AB: Fizemos algo aqui também. O mesmo story line virou filme de comédia e de suspense, por causa do modo como foram feitos os diálogos e a sonoplastia. Essa atividade deu aos alunos certa experiência no trato com a linguagem... Também fizemos atividades com montagem, para viver a experiência de como é juntar de modo artificial no filme aquilo que está separado na realidade. Eles gravaram e editaram direitinho. Mas na hora de escrever sobre no blog...
MP: Creio que a noção de montagem é fulcral. Vi isso, sobretudo com trabalhos de televisão.
MM: São interessantíssimas as atividades que vocês realizam no MIDIALAB, principalmente essas envolvendo cinema e publicidade, realmente é uma forma muito inteligente de fazer as crianças se interessarem.
AB: Pois é, Gabriela. Mas não podemos nos furtar da responsabilidade de ensinar a linguagem escrita, mesmo que as mídias audiovisuais e a Internet sejam mais atrativas. Não sei se o Manuel ficou sabendo dessa, mas os alunos fizeram uma "campanha de valorização do nerd" na escola... Usamos essa estratégia para que os alunos experimentassem com a noção de apelo publicitário...
MP: Interessante, essa campanha! Não soube, não!
AB: A tarefa era pensar no que é que os "bagunceiros" gostam e dar um jeito de associar o estudo com algo interessante para quem não gosta de estudar. O trabalho que eu mais gostei foi o que desenvolveu o seguinte raciocínio: "Estudar também é uma forma de chamar a atenção", já que os alunos disseram que os bagunceiros fazem bagunça porque gostam de ser o centro das atenções. Naquele dia, eles realmente fizeram um esforço cognitivo importante, e foram da realidade ao texto, do texto à imagem... Só não conseguiram sintetizar a atividade do dia no blog.
MP: Neste momento, no único mestrado em que lecciono este tipo de questões, faço um trabalho de outra natureza: em vez de dar lições, pus todo o mundo a ir para o terreno, procurar testar aquelas idéias-feitas acerca das crianças e dos 'efeitos das mídias nas crianças'. Pô-los a pensar, a interrogar os lugares-comuns, aquilo que parece óbvio. Tem sido muito difícil e, ao mesmo tempo, exigente, porque estamos dependentes dos inputs e questões dos estudantes para aprofundar e problematizar os temas.
MM: Ah, muito bom que você comentou isso, Manuel. Já aproveito para lançar a última questão que foi formulada a partir de uma entrada do seu blog, EDUCOMUNICAÇÃO: Você comentou sobre o texto publicado no Times “Is technology ruining children?”, por John Cornwell. O que vocês pensam da idéia já formada por várias pessoas de que a mídia destrói a infância?
AB: Do meu ponto de vista, a noção de infância é histórica e, como tudo que é histórico, muda. Houve um tempo em que a noção de infância não existia, depois ela foi criada e associada com o cuidado. Os tempos são outros e a idéia de cultivo, de controle, vem sendo substituída pela idéia de liberdade, ao menos no discurso das corporações produtoras de cultura. Não sei onde isso vai parar a noção tradicional de infância está sim sendo minada. Vai ser substituída por outra. Espero estar viva para poder entender que noção será essa, porque curiosa eu estou!
MP: Já se disse isso tudo da BD, do cinema, do rádio, da TV, do computador, do videogame... A Alexandra já comentou o essencial, logo no início desta conversa. Há riscos e oportunidades. É preciso aprender a tirar partido das oportunidades e controlar os riscos. Não embarco nem em discursos encantatórios nem catastrofistas. Ainda que existam motivos de encanto e de cautela.
(Gabriela Azevedo Forlin)
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