Reflexões do livro "O espectador emancipado"
"Na lógica pedagógica, o ignorante não é apenas aquele que ignora ainda o que mestre sabe. É antes aquele que não sabe o que ignora nem como chegar a saber isso que ignora. O mestre, esse, não é apenas o indivíduo que detém o saber ignorado pelo ignorante. É também aquele que sabe como fazer da coisa ignorada um objecto de saber, em que momento e segundo que protocolo (...)(p.16)
O que lhe falta,
o que sempre faltará ao aluno, a não ser que se torne ele próprio mestre, é o saber relativo à ignorância, o
conhecimento da distância exata que separa o saber da ignorância. (p.17)
Essa medida
escapa precisamente à aritmética dos ignorantes. O que o mestre sabe, o que o
protocolo de transmissão de saber começa por ensinar ao aluno, é que a
ignorância não é um menor saber. A ignorância é o oposto do saber; porque o
saber não é um conjunto de conhecimentos, mas sim uma posição. A distância
exata é a distância que nenhuma regra mede, a distância que se prova pelo
simples jogo das posições ocupadas, que se exerce pela interminável prática do “passo
mais à frente” que separa o mestre do indivíduo que supostamente o mestre deve
trazer até junto de si.
A distância é a metáfora do abismo radical que separa o modo de estar do mestre do do ignorante, porque separa duas inteligências: a que sabe em que consiste a ignorância e a que o desconhece. É antes de mais este afastamento radical que é ensinado ao aluno pela ordenação própria do ensino progressivo. Este ensina-lhe a antes de mais a respectiva incapacidade. E, assim sendo, trata de verificar constantemente no seu agir o seu próprio pressuposto, a desigualdade das inteligências. Esta interminável verificação é aquilo a que Jacotot chama embrutecimento. (p.18)
A distância é a metáfora do abismo radical que separa o modo de estar do mestre do do ignorante, porque separa duas inteligências: a que sabe em que consiste a ignorância e a que o desconhece. É antes de mais este afastamento radical que é ensinado ao aluno pela ordenação própria do ensino progressivo. Este ensina-lhe a antes de mais a respectiva incapacidade. E, assim sendo, trata de verificar constantemente no seu agir o seu próprio pressuposto, a desigualdade das inteligências. Esta interminável verificação é aquilo a que Jacotot chama embrutecimento. (p.18)
A essa prática do
embrutecimento opunha Jacotot* a prática da emancipação intelectual. A
emancipação intelectual é a verificação da igualdade das inteligências.(...) (p.18)"
Fonte: O espectador emancipado, de Jacques Rancière, Lisboa: Orfeur Negro, 2010
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