Cineasta e educadora defende o curta-metragem como o melhor formato para levar audiovisual aos jovens, que devem intervir criticamente nas produções
Moira Toledo diz que oficinas de audiovisual devem acontecer em circuitos estimulantes e desafiadores |
Apaixonada pela profissão que tem, Moira transmite a sua relação intensa com o audiovisual sempre que é estimulada a falar sobre sua experiência na área, como nesta entrevista que segue abaixo ou como pode ser visto dias atrás, no Seminário Claro Curtas, onde foi calorosamente aplaudida após sua palestra. Com a disposição de uma iniciante, ela abraça diferentes iniciativas. Como educadora, acumula projetos como o Perifa, as Oficinas Kinoforum e as Oficinas do Festival do Minuto. Sua respeitada faceta cineasta já esteve na direção de cinco curtas-metragens e seis documentários de média metragem. “Gosto de arte. Arte me inspira”, diz Moira, que defende que inspiração é algo que se desperta através de repertório, novidade, leitura e ócio.
Instituto Claro - Há algum ponto comum entre as propostas pedagógicas que desenvolve para oficinas de vídeo e de cinema para jovens alunos? Algum aspecto, técnico ou mais subjetivo, que considere essencial?
Moira Todelo - O principal aspecto é a participação, compreendida como um instrumento transversal. Promover a participação significa criar uma oficina como quem cria uma obra de arte moderna, uma obra/projeto educativo que tem em si um negativo, ou seja, só é plena de fato quando conta com a participação e a intervenção crítica dos alunos. Na prática, busca-se a participação a partir de todo um circuito educativo estimulante e desafiador, em que as atividades possuem objetivos práticos e também subjetivos e que tem como objetivo mais amplo promover nos alunos o desenvolvimento e o aprimoramento de competências que vão muito além do audiovisual.
Como você resumiria a dinâmica deste circuito educativo?
Moira - Nas primeiras aulas, os estudantes são surpreendidos por atividades especiais totalmente diferentes de uma sala de aula formal. Quebra-se qualquer expectativa, deixando claro que eles estão em um ambiente diferente. Em seguida, são estimulados a praticar, colocar a mão na massa [na câmera], experimentar e especialmente... errar. Essa é a etapa da curiosidade ingênua, como descrevia Paulo Freire. Em seguida, as experiências são analisadas, e parâmetros, mudados, um de cada vez! E pouco a pouco, aprendendo a mexer na câmera, experimenta-se também o método científico. As aulas que se seguem são voltadas a diversificação e qualificação do repertório cultural-cinematográfico dos alunos. A próxima etapa é o desenvolvimento dos roteiros, momento fundamental de autoria, em que se semeiam as bases para o processo de amadurecimento dos alunos em aspectos intrapessoais, relativos à relação com a própria imagem, autoconfiança e autoestima.
E o quanto este momento influencia a produção coletiva que vem depois?
Moira Toledo - Esse momento de amadurecimento ajuda os alunos a confiarem mais em si mesmos e a se tornarem mais seguros. Nesse processo, ocorre também uma das principais conquistas das oficinas: o desenvolvimento de aspectos interpessoais - a capacidade de dialogar, de criticar uns os trabalhos dos outros, permitindo que eles entendam na prática que a crítica é um processo dialético que não coloca em xeque o que eles são, mas apenas uma ideia que eles produziram. Costumo dizer aos alunos que ao longo da oficina eles vão aprender um pouco sobre si mesmos e muito sobre como se relacionar uns com os outros. E eles costumam concordar comigo no final da oficina.
E do processo que vem em seguida, a gravação, o que você destaca?
Moira Toledo - O processo de gravação é o momento da emancipação estética, em que os alunos integram todas as referências, ideias originais, diálogos criativos e imprimem isso esteticamente no vídeo. É o grande momento, na cabeça dos alunos, que ainda não imaginam o que será a exibição final... É quando toda a percepção sobre o método científico é colocada em prática, e os alunos experimentam de maneira rigorosa, já com escolhas claras e muitas decisões tomadas. O processo de edição é o momento de plenitude estética, que alça os alunos a um novo patamar de percepção, despertando ou aprofundando novas camadas de raciocínio abstrato, com a construção de um discurso audiovisual através da multiplicação de sentidos, como propunha Eisenstein [Serguei Eisenstein]. Conceitos que começam a ser facilmente absorvido por alunos de quaisquer idades. Depois do filme pronto, há ainda um longo processo de avaliação feito por alunos e educadores.
Confira vídeo em que a cineasta fala a educadores sobre a "nova sala de aula"
Existe um gênero que você prefira trabalhar em oficinas com jovens? Alguma narrativa que considere mais efetiva no primeiro contato quando a intenção é fazê-los entender a produção audiovisual?
Moira Toledo - Sem dúvida, o formato é o curta-metragem. Em geral entre 3 e 10 minutos de duração. Mesmo em processos longos como a universidade, é quase impossível trabalhar com um longa-metragem, por uma questão logística mesmo. E, em oficinas, o formato curto é absolutamente perfeito. Uma tendência recente é a dos vídeos curtíssimos, como do Festival Claro Curtas e do Projeto Laboratório, e também o vídeo de minuto, como o Festival do Minuto, que tem tudo a ver com as novas tecnologias e são formatos legais e mais viáveis, pois ficam interessantes se feitos com celular ou câmera fotográfica.
Fonte: Instituto Claro 01/09/2011
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