A escola do medo e da desesperança

Convidamos o jornalista e especialista em quadrinhos, Carlos Ely, para fazer uma resenha da adaptação para HQ de "Conto de Escola", de Machado de Assis, pubicado pela Editora Peirópolis. O responsável pela adaptação foi o artista Laerte Silvino. Boa leitura!!!
As aventuras de crianças e adolescentes nos bancos de escolas já foram retratadas em diversos clássicos da literatura universal. Livros como: O Ateneu (de Raúl Pompeia),  As Aventuras de Huckleberry Finn (de Mark Twain), Doidinho (de José Lins do Rego), Entre os muros da escola (de François Bégaudeau), O senhor das moscas (de Wiliam Golding), entre outros. São clássicos que mostram o ambiente escolar como uma pequena alegoria do mundo, com suas relações de poder e violência.

O mais novo lançamento da série Clássicos em HQ, da Editora Peirópolis, traz aos leitores um dos contos mais conhecidos do mestre Machado de Assis: Conto de Escola. Ambientado no Rio de Janeiro da metade do século XIX, o conto foi publicado inicialmente no jornal Gazeta de Notícias, em 1884, entre o lançamento dos romances: Quincas Borba e Dom Casmuro. A história provoca a reflexão sobre as conseqüências do medo e do castigo e sobre o papel da escola na formação do caráter da criança.
No conto, Machado explora as lembrança de Pilar – o protagonista que nos conduz ao longo da narrativa em primeira pessoa. Por meio do narrador, conhecemos o professor Policarpo. Homem severo, com cinqüenta anos ou mais, que tinha sua escola em um sobrado onde ele habitava o andar inferior. Extremamente violento, como, aliás, era comum na época, Policarpo tinha sempre próximo a si uma palmatória redonda, de madeira, com cinco incrustações de metal e que era o horror de todas as crianças. O medo que o mestre provocava nas crianças vai criar a situação sobre a qual o conto discorre, e que envolve particularmente dois outros meninos (Raimundo, filho do professor Policarpo e Curvelo, um colega de sala). No melhor estilo do mestre da literatura brasileira, o “Conto de Escola” tem frases curtas, diretas, que vão revelando – como em outros trabalhos de Machado – as entranhas da psique humana: “foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação...”
O artista Laerte Silvino, responsável pela adaptação do conto para quadrinhos, diz que escolheu este conto de Machado por se identificar com a história de Pilar: “Fiquei espantado ao encontrar, no texto, situações parecidas com algumas que vivi quando estava na escola. Também estudei em um sobradinho, também tive um professor que arrastava suas chinelas de couro pela sala, professor que inspirou essa minha versão do Policarpo... em outros tempos eu não escaparia da palmatória.”

Silvino nasceu em Recife, cursou Geografia e, após viajar por várias áreas exóticas do país, resolveu se dedicar à ilustração e aos quadrinhos. Ele mantém o site www.laertesilvino.com.br

Se você quer conhecer o conto, clique neste link do site domínio público e leia a história de Pilar e seus amigos.

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