Fidel: A História “em quadrinhos” me absolverá

Compartilhamos texto do jornalista Carlos Ely, especializado em quadrinhos e coordenador/autor do blog Nona Arte. Nele é possível encontrar várias resenhas de quadrinhos literários, jornalísticos, biográficos, sobre guerras, etc Recomendamos!!!

Goste dele ou não; ninguém pode desconhecer a importância histórica de Fidel Castro. Poucos líderes políticos do século XX tiveram uma trajetória tão longa e deixaram uma marca tão forte quanto o comandante cubano. Hoje, praticamente excluído do jogo político, Fidel tornou-se literalmente uma lenda viva. Um caso onde o personagem se torna maior que o próprio homem.

Dezenas de livros e documentários já foram feitos sobre a saga de Fidel; desde sua infância, até a tomada do poder; passando pelos tempos de militância nos movimentos estudantis, pela viagem a Sierra Maestra e a organização da Guerrilha. Agora, chega ao mercado editorial brasileiro uma história em quadrinhos que explora a trajetória do líder cubano: “Castro”, do artista alemão Reinhard Kleist.

O romance gráfico chega ao Brasil por meio da editora 8Inverso – a mesma que já havia lançado dois outros trabalhos do autor (Cash, uma Biografia e Elvis) – e vem sendo recebido com críticas extremamente positivas. O livro teve uma excelente repercussão em festivais internacionais e tem sido considerado uma obra madura, que consegue mostrar Fidel Castro de forma isenta, sem cair na tentação maniqueísta ou mistificadora.

 
Para construir o roteiro, o Kleist contou com a ajuda do jornalista alemão e biógrafo de Castro – Volker Skierka e utilizou-se de um diversificado acervo de fontes de informação. O resultado de toda essa pesquisa pode ser visto na revelação de detalhes sobre a história da Revolução que o leitor comum não costuma encontrar nas reportagens de jornais, revistas e TVs.

Kleist – que no momento está envolvido com um novo romance gráfico que vai contar a história de um lutador de Box alemão que viveu o inferno dos campos de concentração – é dono de um traço moderno e arrojado. A história – em preto e branco – consegue transmitir a dramaticidade que o enredo exige. Além de um admirável domínio da narrativa gráfica, o autor realizou uma ampla pesquisa visual em livros de histórias, filmes, fotos antigas e novas... “Havana tem uma estética muito forte, seus edifícios, seus carros e sobretudo sua luz...”. Com tudo isso, Castro já pode ser considerado um dos melhores lançamentos deste ano no mercado editorial brasileiro de romances gráficos.

Fidel e outro lado da moeda
O Nona Arte fez uma pesquisa e encontrou outros projetos que abordam a trajetória de Fidel em quadrinhos e encontrou algumas pérolas:


A primeira é “80 anos com Fidel”. Com um indisfarçável propósito de fazer uma crítica à política castrista, o autor não poupa a trajetória do líder cubano. Raúl Rivero, poeta e jornalista, foi condenado a 20 anos de prisão por publicar em veículos de imprensa fora de Cuba reportagens críticas ao regime. Com as porta fechadas na imprensa da ilha, Raúl fundou em 1995 a agência Cuba Press para exercitar um jornalismo “independente”.



Outra história é desenhada por Joe Sinnott. "O Homem de barba" é uma genuína apologia pró-castro onde se podem ler frases como: “este é o homem a quem Ca saúda como herói e libertador”. O roteirista desta história é ninguém menos que Stan Lee, o criador de personagens como Homem Aranha.

Fonte: Nona Arte/ http://quadrinhos-nona-arte.blogspot.com/
Kleist revela que a idéia do livro nasceu depois de uma viagem a Cuba. Foi ali que o autor percebeu que o líder revolucionário, apesar da decadência política e física, ainda tem carisma suficiente para se converter em personagem de um romance gráfico. Para contar sua história, Kleist lança mão de um recurso já bastante conhecido em quadrinhos de caráter histórico/documental: ele cria um personagem fictício que serve como fio condutor costurando fatos históricos do passado, impressões pessoais do artista e o cotidiano atual da ilha. No caso, o personagem é um fotógrafo alemão que viaja a Cuba para cobrir os primeiros movimentos da revolução e acaba se tornando um colaborar próximo de Castro e um ferrenho defensor do regime que com o passar dos anos passa a se questionar sobre a perda da liberdade, o desabastecimento, as prisões políticas... Kleist não foge do desafio de abordar pontos positivos e negativos da biografia de Fidel: “se você não pode simpatizar com ele, ao menos por meio do livro, me disseram alguns leitores, se pode conhecê-lo um pouco e entendê-lo” – diz o autor.

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